Por Daniel Rocha
Com uma aposta de 8,00 cruzeiros, o que na moeda atual equivale aproximadamente 10 reais, o tabelião caravelense Odorico Lopes, na época com 67 anos, dono de um cartório na cidade de Caravelas e de uma fazenda na fronteiriça Nanuque, MG, acertou sozinho na antiga “Loteria Esportiva” um prêmio de 13 milhões, na época, o maior valor já pago no mundo.
O cartão do vencedor foi perfurado em Nanuque, onde o tabelião ia regularmente para visitar sua fazenda com gados. Por essa razão as primeiras notícias relacionadas ao premio indicavam que o ganhador poderia ser um morador da cidade onde foi vendido o cartão.
Tal possibilidade agitou os ânimos e a esperança dos mineiros da fronteira provocou um certo movimento na porta da prefeitura, que precisou de proteção especial para conter a multidão de curiosos que exigia a revelação do nome do ganhador. Horas mais tarde, o nervosismo chegou ao fim quando foi divulgado que o prêmio pertencia a um morador da cidade de Caravelas.

O apostador Odorico Lopes
O episódio faz lembrar algo que é bem conhecido entre os estudiosos da história da região, até a década de 1970 essa parte do extremo sul da Bahia tinha como “capital” a cidade mineira de Nanuque, que era assim chamada por ser o centro de referência de compras para o vale do Mucuri e as cidades do Extremo Sul da Bahia e norte do Espírito Santo.
Influência que foi construída durante décadas pelo trânsito constante de mineiros e baianos nos dois lados da fronteira, movimento que por muitos anos foi favorecido pela estrada de ferro Bahia -Minas (EFBM) linha ferroviária implantada em 1882 que ligava o nordeste de Minas Gerais ao sul da Bahia, desativada em 1966 em detrimento da abertura de novas estradas como a BR-101, que subordinou a região a influências dos estados do sudeste do país e da capital Salvador.
Por fim, o caso do apostador baiano mostra que a ligação pela estrada de ferro Bahia e Minas foi mais do que um canal de trocas comerciais, foi também um lugar de intercâmbio cultural e de costumes e acontecências que ligam os dois povos que ainda hoje, independente das delimitações oficiais das fronteiras entre os dois estados, possuem culturas soberanas.
Fontes:
ELEUTÉRIO, Arysbure Batista. Estrada de Ferro Bahia e Minas “A Ferrovia do Adeus”.
NETO, Sebastião Pinheiro Gonçalves de Cerqueira. Contribuição ao estudo Geográfico do município de Nanuque. 2001.
Jornal O Globo, março de 1973
Correio Manhã Abril de 1974
Foto principal: Cidade de Nanuque
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