Por Daniel Rocha*

A “Beatlemania” é um neologismo criado na década de 1960 para descrever a histeria coletiva que afetava os fãs em relação à banda inglesa The Beatles. Acredita-se que em Teixeira de Freitas, cidade do extremo sul da Bahia, o fenômeno ocorreu no bairro Recanto do Lago, em 1995, motivado pela campanha de lançamento da música “Free as a Bird”.   

Free as a Bird foi uma canção inacabada composta, e registrada em 1977, por John Lennon, Beatles assassinado em 1980, que foi finalizada e lançada por Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr em 4 de novembro 1995 no álbum “The Beatles Anthology”, alardeado na mídia “a reunião da banda”.   

O grande acontecimento musical arrebatou os corações e mentes de alguns dos jovens brasileiros e também dos moradores do bairro teixeirense de classe média que passaram a se interessar e comprar livros, coletâneas em fita K- 7 e à icônica revista especializada “Revolution,” que era produzida e editada por Marco Antônio Mallagoli, o único brasileiro que esteve com todos os integrantes da banda e presidente fã clube, único autorizado pelos Beatles na América latina. 

Capa da Revista Revolution

Segundo a perspectiva do músico Marcos Marcelo, que na época liderou e incentivou a formação do dito grupo de jovens fãs, com idades compreendidas entre 14,15 e 16 anos do bairro Recanto do Lago, o perfil dos adolescentes que aderiram à febre no bairro variava e se assemelhavam em alguns aspectos. 

Por exemplo, alguns estudavam em escolas públicas e outros em escolas privadas, todos frequentavam Igrejas e pertenciam a famílias tradicionais, cursava informática ou datilografia, alguns jogavam futebol na rua, outros na quadra do Clube Jacarandá, cumpria algumas obrigações domésticas e com regularidade assistiam TV, ouvia programas de rádio e frequentavam locadoras de vídeo. 

Na contramão dos outros adolescentes, os beatlemaníacos faziam uso do tempo livre para tocar e aprender com o violão as primeiras notas de “Free as a Bird” ouvindo repetidas vezes no toca-fitas e “costumeiramente” se reuniam em espaços como, calçadas, garagens e varandas para conversar sobre as bandas, The Beatles, Legião Urbana e Mamonas Assassinas e cantar em inglês, pronunciado de modo estranho, as composições dos ídolos de Liverpool, ícones do rock e da cultura pop internacional.   

Para além dos hábitos e rotina citada, recordou Marcelo que citações de frases e comentários sobre os discursos ácidos de John Lennon contra o tradicionalismo, violência e a favor da luta por justiça social, transformação individual e coletiva, proferidos intensamente pelo cantor depois do fim da banda no início da década de 1970, divulgados pela revista “Revolution” também animavam as falas e os pensamentos dos jovens fãs teixeirenses. 

Por essa e outras razões, revela Marcos Marcelo, os jovens fãs embora “orientados pela família, escola e igreja”, deixaram o cabelo crescer e assim o fazendo “assumiram uma postura contestadora e rebelde em relação ao estilo de vida, costumes e hábitos”, expressos nas rodas de bate-papo sob a forma de relatos das primeiras aventuras sexuais, goles e tragos às escondidas. 

foto, à esquerda: Marcos Marcelo e Bruno Vellarte à direita

Com o fim do interesse coletivo pelos Beatles, os participantes do grupo abraçaram outras causas e ritmos. Contudo alguns seguiram cantando e homenageando a banda em outros espaços e épocas. Marcos Marcelo, contrabaixista e vocalista, por exemplo fez parte da banda cover local “Os BA-tles” formada pelos beatlemaníacos Marcelo Torres (baterista) Rafael leite (guitarrista) e Bruno Vellarte (guitarrista e vocalista).   

“Eu conheci o Bruno Vellarte em 2011 durante um projeto chamado “Banda Coração Pirata” e daí começamos a conversar, trocar experiências musicais e ele me mostrou o projeto “BA- tles” com outros integrantes, daí em diante começamos uma grande parceria”. Recordou Marcos Marcelo. 

Em 2013 a banda que faz uso de uma réplica do “lendário baixo de Paul McCartney”, participou da 2ª Expo Beatles de Teixeira de Freitas, (exposição sobre Beatles) realizada em uma churrascaria no centro da cidade que contou com a exibição de canecas, camisetas, revistas, posters, vinil, CD e com o show da banda cover. 

A exposição, que teve sua última edição realizada em 2014 no Shopping Teixeira Mall, foi idealizada pelo músico Bruno Verllart e outros fãs ardorosos do grupo musical inglês na cidade. Nas duas ocasiões o evento fez lembrar a rememorada “Beatlemania” que agitou os corações e mentes de alguns adolescentes no Bairro Recanto do Lago no ano de 1995.  

Créditos & Referências

The “anthology” está a 96 horas dos ouvidos dos fãs.  O estado de São Paulo, 16 de novembro de 1995. Acervo site tirabanha.com.br

Micthell. James A. John Lennon em Nova York: Os anos de revolução. Editora Valentina Ltda. 2013.

Site da revista  Revolution, http://beatlesrevolution.co.uk/ . Acessado em 10/08/2018.

Anhology 1. Wikipedia, a enciclopédia livre. Acessado em 10 de agosto de 2018.

Free a Bird.  Wikipédia, a enciclopédia livre. Acessado em 10 de agosto de 2018.

O texto foi construído a partir da perceptiva informada em diversas conversas  formais com Marco Marcelo em  outubro  e novembro de 2018.

Os BA-tles no John Black Pub. I Wanna Hold Your Hand. Publicado em 25 de março de 2014 por Izaac Chaves. Disponível no Youtube. Acessado Novembro de 2018.

Foto  extraída do site do site Revolution.

Fotos Banda  enviadas por Marcos Marcelo.

Daniel Rocha*
Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769

e-mail: samuithi@hotmail.com

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