Em 2014 uma notícia relacionada a presença dos nativos Maxakali no centro da cidade de Teixeira de Freitas, BA, ganhou destaque em alguns sites nacionais como o G1. Na época o fato trouxe à tona uma pergunta a muito feita: por que esse povo nativo visita a Praça da Bíblia?

Os repórteres locais acionaram a polícia e as autoridades competentes para socorrer um garoto Maxakali encontrado “amarrado pelo pé em uma barraca na praça” que fica no centro da cidade. Ainda segundo a reportagem, os pais do garoto fazia parte de um grupo de cerca de 50 indígenas pertencentes à localidade de Machacalis, próximo à divisa com Minas Gerais, que vagavam pela região pedindo esmolas.

Foto: photojornalismo

Procurada pelo G1, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que os indígenas da região têm o costume de fazer esse tipo de percurso. “Antigamente as famílias faziam para colher frutos e sementes no caminho e que, com o crescimento da cidade, passaram a mendigar”. Sobre a criança, a Funai informou que eles têm o entendimento de que, amarrando, ela não ia se perder.

Contudo, para melhor entender a ligação dos nativos com esse percurso é preciso lembrar o passado pouco divulgado do território teixeirense que até 1985 pertencia ao município de Alcobaça. Antes da invasão portuguesa a partir de 1500, o povo Maxakali, que eram habilidosos coletores e incipientes agricultores, tinham como território a região entre o Rio Prado , Extremo Sul Baiano, e o Rio Doce, Minas Gerais e parte do Espírito Santos.

Os nativos Maxakali, que ocupavam a região com um conjunto de vários grupos, habitavam uma aldeia que ficava na embocadura da margem esquerda do Rio Itanhém que deu origem ao Arraial do Itanhém que por sua vez originou a Vila de Alcobaça, criada em 1772 pelo ouvidor José Xavier de Machado sob o argumento de defesa da costa e a necessidade de intimidar os “índios bravios” do sertão.

Nesse período a coroa portuguesa, diante da crise desencadeada na segunda metade do século 18, pelo declínio do ouro nas minas gerais, adotou medidas para potencializar a exploração econômica da região através da ocupação de novos espaços e perante isso, o governo da província da Bahia autorizou a invasão de terras indígenas para fins de ocupação e enfrentamento.

Tal fato, dentre outros, empurrou os Maxakali para outras partes do território onde se encontrava outros da tribo, evidentemente para se proteger do assédio e ataques da política de aldeamento promovido pelo império.

Diante disso, é possível então supor que os descendentes destes nativos, que  no presente ocupam terras reduzidas e com recursos naturais escassos, visitam a praça movido pela memória ancestral e sentimento de pertencimentos que aflora em alguns dos antigos habitantes dessas terras, apesar do assédio dos olhares locais herdados dos colonizadores que só enxergam na visita desajustes sociais.


Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Fontes:

J. C. R. Milliet de Saint-Adolphe. Diccionario geographico, historico e descriptivo do imperio do Brasil.  Volume 1. 1845. Página 27. 

Criança indígena é encontrada amarrada em praça na Bahia: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2014/06/crianca-indigena-e-encontrada-amarrada-em-praca-na-bahia.html

Índios do Nordeste: Resistência, memória, etnografia. Org. LUIZ SAVIO DE ALMEIDA, AMARO HÉLIO LEITE DA SILVA, CHRISTIANO BARROS MARINHO DA SILVA, JORGE LUIZ GONZAGA VIEIRA, MARIA ESTER FERREIRA DA SILVA . Páginas 60 – 68.
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