Por Daniel Rocha

Na morte somos todos iguais, certo? Nem sempre. O lugar do descanso eterno depende de quanto a família dispõe para pagar pela cova. Em 2006 em Teixeira de Freitas, BA, os administradores do cemitério Jardim da Saudade providenciaram um ‘puxadinho’ em uma área pública próxima para enterrar os mortos mais pobres.

Vinte anos depois da abertura, o Jardim da Saudade, ou como era conhecido “Cemitério Novo”, então o único em atividade na cidade, havia esgotado sua capacidade de sepultamento e diante disso uma área alagada de 1.100 metros quadrados, cheia de lixo que servia de pasto para cavalos,” foi transformada pela Prefeitura em um “recinto extra” para as famílias que não tinham R$ 261 para comprar uma vaga e enterrar seus parentes na área oficial.

“Só temos um cemitério na cidade, e quem não paga realmente está sendo enterrado em outro local”, disse o então secretário de Infraestrutura, Marcelo Antônio de Azevedo a reportagem do Jornal Alerta que registrou essa perspectiva sobre o fato.

A notícia também repercutiu nacionalmente através da versão virtual do paulista Folha de São Paulo, de 26 de abril de 2006. De acordo com o jornal , o “cemitério gratuito” foi criado pela prefeitura a menos de 30 metros do Jardim da Saudade, rua de trás. Na época da reportagem o “puxadinho”, hoje conhecido como Jardim da Saudade II, já tinha cerca de 150 corpos enterrados no local.

Lixo no entorno. Foto 2011

“Aqui não existe nenhuma dignidade, há cachorros e muito lixo o tempo todo. Não sei como as pessoas que moram perto daqui não reclamam porque os urubus não saem do local”, disse o agricultor Fernando Santos Oliveira, 41, ao periódico paulista.

Sobre os responsáveis pela administração do Jardim da Saudade explicou que as famílias que não podiam comprar uma vaga na área oficial do cemitério eram enterradas no “puxadinho”ao custo de R$13 , valor referente a um “aluguel” de três anos. Depois os restos mortais seriam recolhidos a um depósito no cemitério.

“Aqui é uma área de alagamento, se a gente cavar um pouco a água começa a minar”, reclamou o aposentado Carlos Albuquerque dos Santos, 70, em uma versão do texto publicado no jornal local Alerta de 23 de abril de 2006.

Ainda de acordo com o impresso local de maio do mesmo ano, a repercussão dos fatos motivou a demissão dos responsáveis pelo prefeito da cidade Apparecido Staut.

Considerando a perspectiva apresentada é possível supor que diante da falta de espaço no cemitério os responsáveis seguiram a lei de ocupação comum na área urbana da cidade para determinar o lugar que cada um deveria ocupar, a lei do mais forte e do mais influente, e a não
consciência igualitária popular existente sobre a morte.

Fontes:

FRANCISCO. Luiz. Prefeitura improvisa cemitério para famílias carentes na BA. Jornal Alerta , edição 672. 23 a 26 de abril. Teixeira de Freitas. 2006.

Matéria do cemitério derruba secretário de Infraestrutura. Jornal Alerta. Maio 2006.

Foto: Imagens 2011

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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