Por Erivan Santana*

Os historiadores costumam dizer que o tempo dá voltas, e a História, enquanto ciência humana e social, move-se entre o passado e o presente, com consequências para o futuro. Pois é exatamente isso o que está acontecendo no momento, particularmente nos EUA e também na Europa. 

Sendo um dos berços dos movimentos de contracultura dos anos 60, grande parte da sociedade americana se insurge contra o preconceito racial e a violência policial, revivendo todo o clima, o cenário dos movimentos sessentistas, já citados. É importante lembrar que estes movimentos nos EUA, dialogavam à época com o famoso Maio de 68, na França, mais precisamente em Paris. Não por acaso, a França, assim como outros países europeus, se insurgiram contra tais injustiças, cujo exemplo mais recente foi o assassinato de George Floyd.

Entretanto, aqui no Brasil, fez-se um silêncio incômodo, no triste episódio que vitimou João Pedro, e mais recentemente, Miguel. Parece que a sociedade brasileira se acostumou com as perdas humanas, num claro exemplo do que nos diz Hannah Arendt em “a banalidade do mal”.

Georg Simmel, importante sociólogo alemão, também nos fala sobre este fenômeno, que para ele, ocorre quando determinadas sociedades se acostumam com a intensidade de notícias e deslocamentos próprios da globalização, gerando um mecanismo de “autodefesa”, em que o indivíduo passa a se proteger, sem se preocupar com o próximo.

No caso dos EUA e da Europa, é preciso compreender que estas sociedades hoje, são muito plurais, tanto do ponto de vista étnico, como cultural. A globalização oportunizou não somente a comunicação intensa entre os povos, mas também a sua fácil locomoção, e cidades como Nova York, Paris e Londres, provavelmente sejam claros exemplos desta pluralidade em escala global. Visto por este ângulo, passamos a compreender melhor porque estes movimentos acontecem com tanta intensidade nestes países, refletindo os seus anseios por igualdade e justiça social.

Neste contexto, as ciências humanas vêm ganhando cada vez mais importância e influência nos currículos escolares, em que a História, a Filosofia e a Sociologia são chamadas a explicar um mundo cada vez mais dinâmico e em construção, numa perspectiva humana, crítica e cidadã, tendo a liberdade de imprensa um papel também imprescindível neste processo, principalmente se for livre, ética e independente, levando-se em consideração, a influência e a força da comunicação nos dias atuais, onde ela se faz por múltiplas plataformas, e quando se diz “o mundo está na palma da sua mão”, é literalmente, uma realidade. Que todas essas tecnologias possam estar a serviço da ética, da justiça social e das vidas humanas, é o que desejamos.

*ERIVAN SANTANA. Crônica originalmente publicada no jornal A Tarde, Salvador, 10/06/2020.

Foto: Google Imagens

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