Por Erivan Santana
Pensando sobre o presente ano, lembrei-me de dois livros que narram a história recente do nosso país, e que são bem emblemáticos, cada um à sua maneira. Refiro-me a “Feliz 1958: o ano que não devia terminar” de Joaquim Ferreira dos Santos e “1968: o ano que não terminou” de Zuenir Ventura.
O primeiro, como o título já insinua, é uma celebração da felicidade, o Brasil acabava de ganhar o seu primeiro título mundial de futebol, revelando um garoto de 17 anos, que viria a ser considerado o rei do futebol, Pelé. Vivia-se a era do romantismo e da inocência no país, com o surgimento da bossa nova, e o esplendor e beleza de Martha Rocha, com Copacabana sendo capa de revistas e jornais, país afora. O segundo, relata as tristes memórias e consequências do regime de exceção, que de acordo com os historiadores, vai de 1964 a 1985.
Segundo Evanildo Bechara, em sua “Moderna gramática portuguesa”, o futuro, como tempo verbal, se divide em dois. O futuro do presente aponta o Norte: diz respeito ao que se deseja realizar, construir, experimentar. O futuro do pretérito trata do não efetivado. Este ano traz em si, estas duas características. Foi um tempo de sonhos e projetos adiados; e também de improvisos, surpresas, e perdas inesperadas, vidas interrompidas, existências abreviadas.
A pandemia do Covid-19 trouxe à tona realidades que estavam esquecidas ou encobertas, em todo o mundo. Mostrou que o homem, diante do desenvolvimento científico e tecnológico a que chegou, não tem nenhum domínio sobre a natureza. Deixou claro a falta de sensibilidade para com o próximo, pois mesmo em países ricos, os sistemas de saúde de amparo à população se mostraram ineficientes, dependendo de mais atenção e investimentos. Neste particular, é louvável a existência e atuação do SUS no Brasil, que mesmo diante da falta de verbas e melhorias na sua infraestrutura, foi e tem sido a salvação de centenas, milhares de brasileiros.
Outras questões também ficaram muito visíveis, como a inviabilidade do pensamento de Estado mínimo, defendido pelo capitalismo neoliberal, simpáticos da escola de Hayek e do Consenso de Washington. Existem áreas, como saúde, educação e segurança, em que é necessária a presença forte e permanente do Estado, sob pena do comprometimento da já frágil estrutura social do país.
O presente e o futuro estão sempre em construção, e certamente a história elegerá 2020 como o “ano que não terminará”.
*Erivan Augusto Santana é colaborador do site, professor, escritor, poeta, graduado em letras, Mestre em Ciência da Educação e membro
Academia Teixeirense de Letras (ATL).
Foto: O teixeirense Arnaldo José ,curado do COVID, parabenizado pela equipe do HMTF em maio de 2020.
Parabéns caro colega Erivan, sempre com maestria, tratando as vivências do nosso cotidiano.
Obgdo cara Kylma Luz, um abç!