Por Daniel Rocha*

Em 1950 o gaúcho Luiz Edmundo Appel (1924 – 2006), engenheiro de Minas, Metalurgia e Geologia do governo federal, visitou e mapeou cidades do norte do Espírito Santo e algumas do extremo sul da Bahia, uma região com poucas estradas e de difícil trânsito terrestre. Na ocasião passou pela histórica estrada Cascata-Caravelas, a primeira vicinal aberta na microrregião rural de Alcobaça e Teixeira de Freitas. 

Em seu diário pessoal, publicado na internet pelo site cultural Estação Capixaba, anotou o engenheiro suas impressões sobre essa parte da região e registrou sua breve passagem pelas fazendas Cascata e Serrarias, em julho de 1950, propriedades que antes da histórica estrada só eram acessíveis por canoas através do rio Itanhém. 

Antes de chegar nessa parte do território baiano, o jovem engenheiro a serviço do Governo Federal visitou alguns dos principais centros e localidades do extremo norte do Estado do Espírito Santo e da cidade fronteiriça Nanuque, MG, do ponto de vista estrutural esses lugares se assemelhavam entre si.  

No dia três de julho de 1950, três meses depois de ter chegado à região capixaba, cidade de Linhares, alcançou o extremo sul baiano vindo da cidade de Nanuque, onde embarcou no trem da E.F Bahia -Minas em direção a cidade de Caravelas, então única via oficial de acesso à região pelas terras mineiras. 

Segundo relatos no diário, ele e mais dois ajudantes e companheiro de trabalho, Paulo e Luiz, chegaram na cidade de Caravelas em plena madrugada depois de uma viagem cansativa que durou mais do que o previsto devido ao descarrilamento do trem na estrada que apresentava péssimas condições de conservação. 

Como o comércio já estava fechado, tiveram que dormir dentro do carro, o Jipe de trabalho que levaram no trem, até o amanhecer quando enfim se hospedaram no “Hotel Caravelense” na movimentada rua do Porto. No hotel permaneceram dormindo até a tarde quando saíram, apenas, para conhecer o povoado de Ponta de Areia e ir ao cinema ver o filme em cartaz. 

Nos dias seguintes, cinco de julho de 1950, o engenheiro relatou em seu diário que já tinha percorrido todo território das principais cidades litorâneas da região, Alcobaça, Caravelas e Prado, cidades antigas e sem acesso a luz elétrica e estradas, ao qual observou ser, tal como o norte capixaba e a mineira Nanuque, carentes de infraestrutura e rotas oficiais seguras. O interior do Prado, por exemplo, só era acessível através de balsas, canoas e cavalo. 

Já no dia sete de julho de 1950, escreveu que visitou o “Sertão de Alcobaça” até à Fazenda Cascata e Serraria, antigas fazendas localizadas às margens do rio Itanhém, “a uns 70 Km da sede do município.” Como não há informações da existência de uma outra estrada ligando a cidade alcobacense as fazendas, em suma, podemos concluir preliminarmente que o mesmo passou pela  histórica Cascata-Caravelas que desde a sua abertura possibilitou o trânsito no dificultoso interior do município, mapeado graças a tal via de chão batido aberto por trabalhadores em 1949. 

O breve relato sobre o trânsito de Luiz Edmundo Appel pela fazenda não traz informações sobre os objetivos e missão de sua passagem pela região, mas é possível supor que o levantamento topográfico, de mapeamento e demarcação, com cálculo de distâncias do território tem ligação com algum projeto de abertura de novas estradas pelo governo federal, algo que ocorreu com intensidade nas décadas seguintes, 1960 e 1970. 

Segundo José Sérgio, atual proprietário da fazenda Cascata, em uma entrevista em 2014, não há registros ou lembranças sobre a passagem desse engenheiro pela fazenda, mas existem narrativas acerca de um estudo realizado na época pelo governo federal que tinha como objetivo construir a BR-05, outrora apelidado de Rio-Bahia litorânea, oficialmente BR-101, seguindo uma rota pelo litoral.  

De acordo com o site estação capixaba que publicou fotos e textos do diário disponibilizado pelo filho do engenheiro, Luiz Carlos Seara Appel, nunca se soube qual era a intenção do governo com o levantamento encomendado. Desconfia que nem o próprio engenheiro sabia. 

Mas, convém lembrar que nesse período, final da década de 1950, o rodoviarismo foi implementado de maneira contundente como política de Estado pelo presidente desenvolvimentista Juscelino Kubitschek que, nos anos 50, incentivou à indústria automobilística, à abertura de estrada e criação de Brasília.  Ele intensificou a política que privilegiou as rodovias em detrimentos das ferrovias como alternativas para o transporte de cargas e integração do território fazendo surgir grandes estradas federais, como a BR-101 dentre outras que transformaram os lugares visitados pelo jovem engenheiro gaúcho Luiz Edmundo Appel na década de 1950. 

Fontes: 

GUEDES. MARIA Helena. A Grande Usina Criada Por Juscelino Kubitschek! 

A estratégia brasileira de privilegiar as rodovias em detrimento das ferrovias.https://brasilescola.uol.com.br/geografia/por-que-brasil-adotou-utilizacao-das-rodovias-ao-inves-.htm 

1950: Diário de um engenheiro no Espírito Santo. Disponível no site:  http://www.estacaocapixaba.com.br/ 

Daniel Rocha da Silva* 

Historiador graduado e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. 

Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com 

O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. 

Foto: Década de 1950. Meramente ilustrativa.  Google Imagens.

Faça uma DOAÇÃO via PIX de qualquer valor e colabore com a manutenção desse trabalho.

Chave PIX: samuithi@hotmail.com

Compartilhar: