Por Erivan Augusto Santana

Acordei em cima da hora para a aula on-line, jogo água no rosto às pressas e ligo o computador. Vou no gmail e envio o link da aula para os alunos. Me assusto com esse google meet, isso tudo é muito novo para mim, assim como também para os alunos. Um a um, eles vão chegando na sala, e os comentários aparecem às dezenas na tela. Fico procurando onde é o chat, finalmente achei, sinto-me meio perdido nesse ambiente. Pergunto se o som está chegando bem, alguns respondem que sim.

Com os grandes números de comentários no chat, ponho-me a observar a força da escrita, mesmo em um ambiente como este. Observo também a dinâmica histórica da língua portuguesa. Os comentários contém palavras muito abreviadas, gírias e normalmente, são bem humorados. Na verdade, há um choque de gerações aqui, diante de tantas transgressões ao que se pode dizer “norma culta e padrão da língua portuguesa”, embora se necessite levar em consideração o contexto do ambiente virtual.

A aula começa, a discussão gira em torno de um texto em que se aborda a pandemia do Covid-19 e suas consequências a nível planetário. Um aluno aparece com um papagaio de estimação na tela, outro com um cachorrinho. Risadas geral no ambiente, tudo trava, demora um pouco, mas consigo trazer a discussão do texto de volta, à aula.

Depois de um tempo, não sei como, alguém insere no debate o porte de armas. Um aluno, mais exaltado, defende o porte de armas a toda à população. Procuro contemporizar, dizendo que cada caso é um caso, e que na verdade, o que o povo precisa é de educação, saúde, saneamento básico, emprego e renda. Uma aluna entra na conversa e lembra os constantes casos de atentados com o uso de arma de fogo nos EUA, me ajudando no meu argumento, ufa!

Imediatamente, compreendo que uma sala de aula, mesmo no ambiente virtual, é um reflexo da sociedade, um microcosmo de uma determinada realidade. Em que pese a polarização presente durante a aula, refletindo a sociedade e o momento político em que passa o país, senti uma certa insegurança dos alunos em seus argumentos, como se desejassem encontrar respostas aos seus medos e anseios.

Consigo terminar bem a aula, em meio a uma conversa amistosa, buscando o entendimento, em meio a tantas realidades, visões de mundo e histórias de vida ali presentes. Como dizia Vygotsky, educar é um ato social.

Quando termino a aula, e olho o celular, há dezenas de mensagens de alunos querendo tirar dúvidas, duas reuniões agendadas para o mesmo horário, tendo ainda mais duas aulas on-line pela frente… E agora, o que fazer primeiro?!

Erivan Santana. Teixeira de Freitas, abril de 2021.

*Erivan Augusto Santana é colaborador do site, professor, escritor, poeta, graduado em letras e mestrando em Ciência da Educação  e membro
Academia Teixeirense de Letras (ATL)

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