Por Daniel Rocha

Essa imagem que ilustra o texto pode ser a mais antiga da cidade agora disponível para nós. Compartilhado em uma rede social de fotografia, em 2013, por um anônimo que apenas informou na legenda ser um registro antigo, o local fotografado foi reconhecido por um antigo morador, Jair de Freitas Correia no ano de 2020. Como base nos relatos construí uma interpretação.

Segundo Jair de Freitas Correia (78 anos), a foto em questão é da casa que pertenceu à família de um antigo morador chamado “Júlio Rico” e ficava na margem direita da atual Avenida Presidente Getúlio Vargas, “bem depois do Hospital Regional”. Ainda de acordo com Jair de Freitas, a foto deve ser da década de 1960, pois recorda que passava muito por lá nessa época. Suposição que a coloca entre as fotografias mais antigas da cidade. 

Júlio Rico era pai de dois moradores pioneiros, “Aurelino e Osmindo,” que também são considerados fundadores do “Comércinho dos Pretos”, aglomeração comercial que ficava às margens da estrada de rodagem da Euleuzibio Cunha S/A, nas imediações da Praça do Leões, onde se originou a cidade de Teixeira de Freitas.  

Ainda de acordo com Jair, os proprietários “Aurelindo” e “Osmindo”  também eram netos do Velho Guilherme, dono da fazenda Japira. “Uma colônia de morenos que existia por aí onde hoje é o bairro Colina Verde... Um ex- escravo que falava embolado.” 

No aspecto histórico do registro, chamo atenção para dois fatos presentes e ocultos na foto. Primeiro, ao optar por um plano aberto fica claro que a intenção do fotógrafo desconhecido foi registrar casas e o “pé de dendê” a porta de uma delas. 

A presença da palmeira é simbólica e diz muito sobre a cultura negra e hábitos da comunidade da época. Isso porque a palmeira é reconhecida como um dos elementos da diáspora africana no Brasil. Do dendezeiro também eram extraídos tipos de óleo úteis ao preparo de pratos típicos da época comuns entre os moradores que fundaram o “Comercinho dos Pretos.”   

O segundo ponto visível e ao mesmo tempo oculto, diz respeito ao modelo das casas. Próximas umas das outras e não muradas, casas de uma sociedade que tinha como costume, suponho, a socialização e a valorização do contato com vizinhos e comunidade que já expandia, é possível observar a existência de uma outra nas imediações. “Casas construídas com barro batido e cipó”, lembrou Jair.

Ao trabalho de Susana Ferreira, “A vida privada de negros pioneiros no povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960”, o senhor Onofre José de Oliveira, irmão de Aurelino José de Oliveira e Osmino José de Oliveira, filhos do senhor Júlio José de Oliveira e Otávia Margarida da Conceição, antigos moradores da Fazenda Santa Maria, situada no bairro Nova Teixeira, relatou que “em 1958 os irmãos mudaram-se da fazenda e abriram comércio, mais tarde denominado o “Comércio dos Pretos”.   

Diante dessas informações, e amparado nos relatos do senhor Jair de Freitas Correia, finalizo, por hora, concluindo que a fotografia apresentada é um autêntico registro da moradia e dos hábitos de alguns dos pioneiros do antigo “Comércio dos Pretos”, núcleo de pequenas barracas comerciais que deu origem a grande Teixeira de Freitas. Um dos registros mais antigos conhecido da cidade que comemora 36 no próximo dia 09 de maio.

Daniel Rocha*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-XContato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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