Daniel Rocha*

Em dezembro de 1968, uma tromba d’água que atingiu partes do rio Itanhém em Machacalis,MG, e fortes chuvas torrenciais, inundou  e destruiu cidades do extremo sul da Bahia, cortadas pelo torrente. Tal como no presente, as chuvas revelaram cidades com falta de infraestruturas urbanas adequadas.

Tendo seu centro cortado pelo rio Itanhém, a cidade  de Medeiros Neto foi a que mais sofreu com  os efeitos das fortes chuvas e da tromba  d ‘água que fez subir  o nível  das águas dos rios e córregos 

Com o transbordamento do Itanhém, 520 casas foram destruídas, inclusive edifícios públicos e lojas comerciais. Um terço da população  ficou desabrigada na cidade e no interior. Os municípios  vizinhos  também  sentiram os efeitos do grande volume  de água  que abalou as frágeis  estruturas  de uma região desassistida pelo Estado.

Além de Medeiros Neto, Alcobaça, também sofreu prejuízos incalculáveis, segundo registrou na época o jornal O Estado de São Paulo, 14 pontes  foram destruídas e 120 casas derrubadas em todo município alcobacense ao qual parte  do povoado de Teixeira  de Freitas fazia parte.

Uma dessas pontes levadas  pelas águas das chuvas e do Itanhém foi a da BA 209, conhecida como ponte de madeira da Fazenda Cascata, que não resistiu ao volume oriundo da tromba d’água e sucumbiu ao caudaloso. A destruição da ponte prejudicou o já dificultoso tráfego da região que esperava a conclusão da BR-101. A ponte da estrada federal que estava em construção também foi levada.

Tempos depois, a fim de amenizar os transtornos, uma balsa foi providenciada no Rio  para fazer a travessia de pessoas e carros, como mostra a foto que ilustra o texto. 

Os estragos da enchente não pararam por aí, alguns moradores ribeirinhos  do então povoado de Teixeira de Freitas, BA, também tiveram que se deslocar das margens do rio para não serem engolidos pelo sinistro, lembrou Ivanildo Ivo do Nascimento,  morador da fazenda Nova América,  em  uma entrevista ao site  em 2013.

Em resposta à  tragédia, os governos de Minas Gerais e da Bahia, prestaram  socorros às  regiões  fronteiriças, hospitais mineiros atenderam os baianos, e contaram com a orientação e ação do SAR ( Serviço de Buscas e Salvamento da Força Aérea Brasileira),  que sobrevoou toda a região levando remédio, agasalhos e víveres para a população desabrigada.

O serviço de Busca e Salvamentos da Segunda Zona Aérea com sede em Recife foi acionada pela sua matriz no Rio de Janeiro, SALVAERO, e ficou estabelecidos na Base Aérea de Caravelas, onde foi montado o centro das operações. As aeronaves começaram a atuar dois dias depois da tromba d’água, mapeando e cadastrando flagelados para imediato socorros.

“O serviço de busca e salvamento da FAB recebeu comunicado da secretaria de saúde de Minas informando que duas mil estão isoladas em Machacalis”. (…) Acrescentou o comunicado que a situação havia se agravado com a inundação da cidade de Medeiros Neto.  “(…) subindo a mais de cinco mil as pessoas desabrigadas. As primeiras providências do socorro às vítimas foram tomadas pela equipe de salvamento do SAR de Recife(…) que já montou um posto avançado em Caravelas, litoral baiano , de onde partirão as missões de socorros.) O objetivo é levar às famílias remédios e os soros pedidos com urgência”, noticiou na época o jornal  Folha de São Paulo.

Segundo relatou Libanio da Conceição,em 2013, antigo morador da zona rural de Teixeira de Freitas, na região do povoado,  os helicópteros da FAB sobrevoaram às  margens do rio Itanhém bem “baixinhos” alertando os ribeirinhos através  do alto falante da aeronave para que os moradores saíssem das margens do rio Itanhém  devido o risco  de uma segunda onda  oriunda da tromba d’água.

Ainda conforme o morador, um sobrinho dele, que estava no rio no momento da primeira onda, foi puxado pelas águas por duas léguas, até que conseguiu agarrar em galhos dos matos e se salvar. 

Não houve uma segunda onda e para além da destruição da ponte da Cascata mais dois prejuízos foram sentidos: a ponte da BR-101, que estava em construção, também foi levada pelas águas do rio cheio, e a destruição de lavouras e roças dos moradores ribeirinhos e toda zona rural.

Nos jornais que relatam o ocorrido, foi possível perceber a fragilidade no período de uma região historicamente esquecida que não contava com uma infraestrutura adequada e uma rede de assistência social e hospitalar organizada. 

Fontes :

Desabrigo e morte já alcançaram a Bahia. O Estado de São Paulo, São Paulo, 19 de Dezembro.1968.P.10.

FAB socorre vítimas das inundações em Minas e Bahia. Folha de São Paulo, São Paulo, dezembro.1968.P 13.

Benedito Libânio da Conceição,22/01/14.

Ivanildo Ivo do Nascimento 11/2013. José Sérgio 05/13. Estes entrevistados são membros de famílias que moram na região desde antes do surgimento da cidade.

Foto: Porto da Fazenda Cascata. Osair Nascimento. Acervo do Departamento de Cultura de Teixeira de Freitas. 2016

Daniel Rocha

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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