Por Erivan Santana

Tirabanha, no Extremo Sul da Bahia, estava em polvorosa, depois da notícia da visita presidencial marcada para aquela semana. Na cidade, não se falava de outra coisa, visto que um presidente nunca tinha aparecido por aquelas bandas.

O mandatário viria inaugurar um ginásio de esportes e anunciar diversas obras, entre outras promessas. Mas logo surgiu uma polêmica: afinal, o tal ginásio já não tinha sido inaugurado pelo prefeito no ano passado? Apoiadores do presidente saíram em defesa, dizendo que a obra precisava de mais visibilidade, e além disso, a campanha presidencial já estava em pleno curso, portanto, tudo era válido.

No dia marcado, toda a imprensa cobria o evento, as rádios da cidade descreviam com precisão cada passo do presidente, até chegar ao local.

O verde e amarelo predominava, diversas brigas foram registradas na cidade, diante das adversidades políticas. No seu discurso, o presidente apelava para todos os recursos imagináveis para explicar a inflação, o preço da gasolina, do gás de cozinha, do arroz e da carne, que estavam nas alturas. Seus apoiadores gritavam: mito, mito, mito…

Mas o pior estava por acontecer. Terminada a inauguração da obra, o presidente e toda a comitiva tomaram o caminho de volta ao aeroporto, passando pela avenida principal. De repente, mais que de repente, houve um ataque de abelhas em loco, atacando a todos que por ali passavam. Por sorte, o presidente não foi atingido, mas vários componentes da comitiva sofreram.

Um professor amigo meu, que passava por ali naquele momento, foi todo picado, e passou aperto para explicar à mulher todas aquelas marcas em torno do pescoço. E os colegas da escola não perdoaram, cada um falava uma coisa diferente, as risadas pipocavam, aqui e acolá…

Em tempos de internet e redes sociais, imediatamente o assunto passou para o trending topics. Vídeos, áudios e fotos circulavam, ocupando todo o espaço do noticiário. Na cidade, não se falava de outra coisa.

Seguidores do presidente logo acusaram a oposição, dizendo que tudo aquilo tinha sido premeditado, e esbravejavam, chamando as abelhas de “comunistas”. O caso é que, diante do ocorrido, o ataque das abelhas à cidade ganhou repercussão, tendo sido mais noticiado do que a própria visita presidencial.

No calor dos acontecimentos, o secretário para assuntos extraordinários da presidência, prometeu a vinda do SNI (Serviço Nacional de Inteligência), para investigar o caso, mas, com o tempo, a ideia foi abandonada, e tudo ficou por isso mesmo.

Erivan Santana é professor, escritor e poeta*

A crônica “O ataque das abelhas”, recebeu menção honrosa na VI edição do Prêmio Castro Alves de Literatura 2022

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