Por Daniel Rocha

Na década de 1980, o extremo sul da Bahia, e todo o Estado da Bahia, se firmou como principal destino turístico do país. Jornais da época e uma carta escrita por uma passageira revelam  algumas dificuldades  enfrentadas pelos turistas ,que passavam pela região, e os moradores do lugar.

Sobre o turismo na região e suas dificuldades, reportou o jornal A Tarde ,de 13 de Janeiro de 1987, que apesar do sucesso  das cidades litorâneas do extremo sul, que recebiam números cada vez maiores de turistas,  as principais cidades não ofertavam  boa infraestrutura para os visitantes e seus moradores.

No texto,  a brasiliense Maria Lúcia Pinto Leal, disse que “para quem chegava  à cidade do Prado para passar uns dias, a falta de comunicação e do saneamento era muito ruim, mas suportável. ”Para este povo que mora aqui , deve ser muito difícil de se viver”.

Já em uma reportagem de 1986, o jornal do Brasil destacou que Porto Seguro, um “município Monumento Nacional”, sofria com muitas das dificuldades comuns  nas grandes cidades, sem ter se livrado das mazelas comuns às pequenas. 

“Para os cerca de 200 mil turistas que lá chegam em bandos nos meses de verão, é um paraíso. Para os que lá moram o ano inteiro ( 13 mil habitantes na sede do município e 70 mil espalhados pelos 17 povoados) nem tanto. A cidade não tem rede de esgotos. Os dejetos são jogados em fossa, quando são, e de vez em quando um caminhão limpa-fossa recolhe tudo para jogar no mar ou no rio.  No verão de 1983 houve um surto de hepatite, com 70 casos”.

De acordo com o estudo,Porto (in) Seguro: A perda do Paraíso. Os reflexos do turismo na sua paisagem, 2004: Na década de 80, a cidade ficaria conhecida como a “Terra da Lambada” e na década de 90, “axé music” tomaria conta da área, consagrado a região como “point” de lazer nacional. Assim, a cidade progressivamente foi atraindo turistas, investidores e moradores que contribuíram decisivamente para a modificação da paisagem”.

Para além da infraestrutura ruim, o estado também perdia com a repercussão dos péssimos serviços prestados por empresas privadas responsáveis pelo transporte interurbano de passageiros, conforme é possível observar no relato de uma  turista enviada à seção de cartas do Jornal do Brasil em 1988.

Propaganda nos jornais vendiam a região como paraíso

“No dia 22/12/1988, por volta das 14h, entrei num ônibus da Empresa Águia Branca, na Rodoviária de Vitória/ES, em viagem para Salvador. Paramos em São Mateus e depois em Teixeira de Freitas, onde permanecemos meia hora para jantar, e às 20h30 continuamos viagem. Aí começou o drama dos passageiros. O ônibus parava em quase todos os lugares e cidades, apenas por cinco ou dez minutos, e o motorista ia logo advertindo que a parada era apenas para embarque e desembarque….E assim ficamos, 48 passageiros, de 20h30 até às 7h30 do dia seguinte, por exatamente onze horas, utilizando o banheiro do ônibus, pequeníssimo, sem ventilação e também sem podermos beber água. (…)Pelo que fiquei sabendo essa  viagem, que mais parece transporte de gado humano, faz parte da rotina da empresa,” destacou a passageira.

Por fim, como bem definiu o Jornal do Brasil em uma reportagem sobre Porto Seguro em 1986, a cidade, pode se dizer também a região, “era um  paraíso cheio de problemas.” 

Fontes: 

Jornal A tarde 1987.

Jornal do Brasil 1988.

Jornal do Brasil 1986.

ARAUJO, Cristiane. Porto (in) Seguro: A perda do Paraíso. Os reflexos do turismo na sua paisagem, 2004:

Daniel Rocha*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.  Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com 

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