Por Daniel Rocha

No decorrer do surgimento e crescimento do povoado de Teixeira de Freitas, BA, nas décadas de 1950 e 1960, o espaço geográfico do primeiro núcleo era limitado, abrangendo apenas a região próxima da Praça dos Leões, o bairro da Lagoa e a Praça Caravelas, no Vila Vargas, além das pequenas comunidades em fazendas importantes, como Nova América e Cascata.

Nas imediações desse centro comercial, onde se concentravam casas e comércio, surgiram também os primeiros casos de violência, conforme relatos de antigos moradores que recordaram, em 1985, o “primeiro crime de morte do povoado”.

De acordo com a pesquisa da historiadora Suzana Ferreira no trabalho monográfico “A vida privada de negros pioneiros do povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960″, o primeiro núcleo do povoado se formou devido à movimentação gerada pela abertura da estrada pela empresa madeireira Eleuzibio Cunha no início da década de 1950. Essa movimentação levou o pioneiro Manoel de Etelvina, conhecido como Tira-Banha, a abrir uma pequena barraca para vender cachaça e outros produtos aos passantes.

Segundo a pesquisa, a abertura desse pequeno comércio incentivou o surgimento de outros estabelecimentos, que deram origem ao “Comércio dos Pretos”. Esse comércio crescente atraiu moradores de outras regiões, que fixaram residência no local.

No final da primeira década, o povoado começou a registrar casos de violência, a ponto de ter sua alcunha popular, “Comercinho dos Pretos”, alterada para “Tira-Banha”, denominação que, ao longo do tempo, adquiriu novos significados após o pioneiro Manoel de Etelvina ser esfaqueado em seu estabelecimento comercial.

De acordo com a historiadora, durante a pesquisa sobre a identidade do Tira-Banha, um assassinato cometido com uma arma branca, uma faca, também foi lembrado pelos moradores como o evento que deu origem ao apelido. Esse fato em questão foi a morte do filho da parteira Ana do Torquato, uma das pioneiras da cidade.

Conforme relatos registrados pela revista, o senhor Isael de Freitas Correia, morador da época, lembrou que o primeiro crime de morte do povoado foi realmente cometido contra um morador da comunidade e praticado por uma pessoa de fora, um pescador, durante uma festa realizada em um salão de Aurelino.

Teixeira década de 1960.

Na mesma revista, Maria Bernarda, conhecida como “a primeira professora do povoado”, também relatou brevemente que a morte de Benedito, filho adotivo da parteira, ocorreu após ele ser atacado com uma navalha em um baile residencial realizado em razão da festa da igreja. Esse crime ficou marcado como o primeiro crime de Teixeira de Freitas:

“Quando perceberam, ele estava esfaqueado e foram à fazenda Cascata, de Joaquim Neto, atrás de um carro. Foi à noite. Quando o tiraram para Caravelas, ele morreu no caminho. Isso foi no outro dia, por volta do meio-dia… Ônibus só passava a cada dois dias.”

As narrativas registradas por Susana também apresentam algumas variações, mas é repetido que o crime ocorreu com o filho da parteira. Segundo um morador da época, senhor Pires, durante uma conversa informal sobre o motivo da briga, a vítima tinha uma rixa com um policial local, o assassino, que resultou em uma briga durante a festa. Esse evento não apenas marcou a comunidade, mas também o executor do crime.

“O assassinato foi sentido pela comunidade, que, como forma de protesto, começou a atirar pedras no telhado da casa do policial, que era de outra cidade da região. A ironia dessa história é que a parteira, a mulher que trouxe à luz as primeiras crianças nascidas no povoado, foi a primeira a enterrar um filho assassinado.”

Na conclusão da pesquisa sobre a verdadeira identidade do Tira-Banha, Susana Ferreira concluiu que o apelido não apenas está ligado aos relatos do assassinato do filho da parteira e ao esfaqueamento de Manoel de Etelvina, mas também ao imaginário local:

“A história é cercada por relatos intrigantes. Durante a pesquisa sobre o lendário esfaqueamento de Tira-Banha, percebeu-se a importância que esse episódio teve/tem no imaginário dos antigos moradores de Teixeira de Freitas. Ao ouvir as versões do caso, constatou-se que descobrir ou não a verdadeira identidade da suposta vítima tornou-se irrelevante.”

Seguindo essa linha indicada pela pesquisa da historiadora, pesquisei a existência de outros relatos que também foram associados ao apelido Tira-Banha e encontrei um documento oficial que faz referência a outro fato. O imaginário e as raízes dessa violência no povoado serão abordados no próximo texto.

 Daniel Rocha*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.  Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com. O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. Facebook 

Fontes e Referências:

FERREIRA, Susana. A vida privada de negros pioneiros no povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960. Uneb campus- x. Teixeira de Freitas BA, 2010.

Foto: Teixeira de Freitas década de 1960. Editada.

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