Por Daniel Rocha

Em 1986 a democracia brasileira voltou a respirar com a realização das primeiras eleições diretas para governador após a Ditadura Militar. Na Bahia, o poder dominante representado por Antônio Carlos Magalhães e o então governador João Durval apoiavam a candidatura do jurista Josaphat Marinho ( PFL).

Na contramão dos antigos representantes do regime no estado, Waldir Pires (PMDB) apoiado por uma frente ampla de dez partidos de esquerda e oposição, tentava pela segunda vez ser eleito governador e pôr fim ao truculento regime na Bahia. “Chega de opressão porque maiores são os poderes do povo” dizia o Jingle do candidato.

Com uma campanha mais simples em relação com a do adversários e e fazendo uso da boa oratória ao denunciar a fome, os desmandos e as injustiças cometidas pelo  regime vigente,  já cambaleante,  Waldir Pires foi eleito  com ampla maioria dos votos em 1986 e conseguiu  romper como ciclo de poder do carlismo.

A vitória do projeto popular apresentado empolgou a população que de todas as formas queria está presente no dia 15 de março de 1987 na posse do governador eleito democraticamente, principalmente das regiões mais afastadas da influência da capital, como a região do extremo sul.

Segundo um jornal da época,  em Teixeira de Freitas-Ba, onde o carlismo tinha o prefeito Timóteo Brito como aliado, o morador local Joseino Ribeiro, portador de deficiência física, que usava uma prótese uma das pernas, fez saber a cidade que percorreria de bicicleta os 820 mil quilômetros até a capital Salvador com o objetivo de entregar ao governador eleito um documento contendo uma série de reivindicações da sua região esquecida e abandonada.

Conforme diz as fontes orais e escritas  consultadas,   o cidadão iniciou sua jornada no dia 07 de março de 1987, quando partiu com sua bicicleta Monark pela BR-101 em direção à capital soteropolitana, onde chegou  nove dias depois com o intuito de se aproximar do governador durante a cerimônia de posse e cumprir com o seu objetivo anunciado. 

Algo que conseguiu em parte,  já que Joseino encontrou dificuldades para se aproximar do governador eleito devido a quebra de formalidades que caracterizou a solenidade de posse do governador Waldir Pires. Sobre a cerimônia de posse e o empenho do exemplar teixeirense,  um jornal da época  noticiou: 

“Depois de participar do ato de posse na Assembleia Legislativa, Waldir Pires chegou ao Palácio da Aclamação acompanhado da mulher, Yolanda, sendo ovacionado por mais de 10 mil pessoas, que gritavam seu nome. Quando o governador entrou no palácio a pressão popular forçou a abertura das portas do prédio secular, sendo ocupados por todos os espaços por gente de toda a Bahia. O deficiente físico Joseino Ribeiro pedalou uma bicicleta durante nove dias, percorrendo 820 quilômetros de Teixeira de Freitas a Salvador,  não conseguiu falar com Waldir Pires, mas entregou um documento a um secretário de estado contendo reivindicação para sua região.”

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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