Por Daniel Rocha
Em 2019, o site Tirabanha registrou um relato sobre um acidente ocorrido na antiga “Biquinha”, em Teixeira de Freitas-BA, situada entre os bairros Teixeirinha e Colina Verde, no local onde hoje se encontra o Parque Municipal da Biquinha.
Conhecida como “Biquinha do Teixeirinha”, a nascente de água cristalina que lhe deu nome foi, até o início da década de 1990, um ponto vital para a comunidade. Ali, moradores dos bairros São Pedro, Teixeirinha, Jardim Europa e até do centro da cidade buscavam água para cozinhar, lavar roupas e também para momentos de lazer e convivência.
Apesar de Teixeira de Freitas já contar com sistema público de abastecimento desde os anos 1970, muitas famílias recorriam às fontes naturais, seja por tradição, por economia ou pela desconfiança quanto à qualidade da água distribuída.

A irregularidade do fornecimento pela EMBASA reforçava essa prática, fazendo da Biquinha uma alternativa considerada segura , embora, como os relatos posteriores mostram, essa segurança fosse apenas ilusória.
Um dos episódios mais marcantes da memória local aconteceu no início dos anos 1990. Segundo relatos, uma família, composta por uma mulher e seus filhos, estava no minadouro da Biquinha, então uma pequena gruta aberta no barranco de barro, quando a estrutura desabou. O acidente resultou na morte trágica da mãe e das crianças.
Não há consenso sobre o ano exato do ocorrido, mas a lembrança do desmoronamento do teto da fonte, semelhante a uma caverna, atravessou gerações. As versões sobre a causa também divergem.

Para Elenildes Pinheiro, o desastre teria sido provocado pelas fortes chuvas, que encharcaram o solo e fragilizaram as paredes. Já Ricardina Maria (em memória) defendia que o problema principal foi a retirada do chamado barro branco, muito usado na época para a construção de fogões a lenha, prática que teria comprometido a resistência da estrutura.
Essa explicação também foi lembrada por Valfrido de Freitas Correia e por Marcos Silva, que apontou tanto a exploração do barro quanto as chuvas como fatores decisivos. Marcos ainda relatou que, na época, circulou a notícia de que sete pessoas , entre lavadeiras, aguadeiras e crianças, haviam morrido, embora apenas três corpos tenham sido oficialmente retirados.

Essas diferentes narrativas revelam como a memória popular mescla fatos e interpretações, preservando viva a lembrança da tragédia. Para muitos moradores, o episódio ocorreu entre 1991 e 1992, ficando registrado como um símbolo das dificuldades enfrentadas pela população diante da precariedade dos serviços públicos e da dependência de recursos naturais para o cotidiano.
Hoje, a Biquinha é lembrada sobretudo como um ponto turístico da cidade. Mas, para quem viveu aqueles anos, o lugar guarda lembranças de luta diária por água e de uma tragédia que marcou profundamente a história de Teixeira de Freitas.
Daniel Rocha da Silva – Historiador graduado e pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB – Campus X. Contato: WhatsApp (73) 99811-8769 | E-mail: samuithi@hotmail.com
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Fontes dos relatos orais:
- Ricardina Maria – conversa informal realizada em dezembro de 2014
- Enildes Pinheiros – conversa informal realizada em dezembro de 2014
- Domingos Cajueiro Correia – relato transmitido por Valfrido de Freitas Correia em novembro de 2014
- Marcos Silva – conversa informal realizada em setembro de 2019
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