Por Daniel Rocha
Em 2015, registramos neste site um relato que resgatava os tempos em que a água encanada ainda era apenas um sonho distante para os moradores de Teixeira de Freitas nas décadas de 1970 e 1980.
Até mesmo depois da chegada da rede de distribuição, a vida cotidiana continuou marcada pela busca em minadouros, córregos, poços e lagos. Essas fontes garantiam a sobrevivência, mas também impunham enormes desafios à rotina doméstica.
A mudança só começou em 1974, quando a EMBASA (Empresa Baiana de Água e Saneamento) implantou o sistema de água tratada nas residências teixeirenses. O feito representou um marco importante para o povoado em rápido crescimento, mas não resolveu o problema de imediato.
A expansão da rede no então povoado não acompanhava o ritmo acelerado do desenvolvimento urbano e, ao longo da década de 1980, muitos moradores, tanto do centro quanto das periferias, como o bairro Wilson Brito, conhecido como “Buraquinho” , permaneceram dependentes de poços e mananciais.
O crescimento desordenado trouxe ainda outro obstáculo: a poluição dos rios e córregos, agravada pela ausência de saneamento básico. Dessa forma, entre os anos 1970 e 1980, a população intensificou o uso de cisternas.

Se antes, até a década de 1960, era comum buscar água em lagos e fontes naturais, como a “Biquinha da Teixeirinha”, nas décadas seguintes os poços se tornaram mais uma alternativa. Cada abertura de cisternas carregava um forte significado comunitário: eram espaços de partilha, solidariedade e convivência.
Os relatos do texto de 2015 fazem lembrar essa memória. Maria Gomes, moradora há mais de 40 anos, recordou-se, em uma conversa informal, de que, entre o fim da década de 1960 e meados da de 1970, nem mesmo o centro contava com água encanada.
Para ela,a cisterna era a única salvação para realizar os serviços da casa: “Eu era a responsável pelos serviços domésticos, tinha que buscar água na cisterna da vizinha, que ficava um pouco longe. Era uma vida dura, eu quase não saía de casa”, contou.
Outro testemunho reforça o espírito coletivo. Benedito Libânio (em memória), do bairro Recanto do Lago, relatou em 2014: “O poço, uma vez aberto, era de uso coletivo. Todo vizinho podia recorrer. Era considerado pecado negar água. Não havia confusão, todo mundo pegava.”
Ainda segundo levantamento de Domingos Cajueiro, a forte demanda fez surgir trabalhadores especialistas na escavação de cisternas , como os célebres “Perneta” e “Tatu”, conhecidos pela habilidade de abrir em tempo recorde.
O trabalho levava de cinco a seis dias, “um dia por metro”, até alcançar a fonte de água. Ao final, o poço era entregue com o sari, engenhoca de madeira usada para içar o balde, muitas vezes improvisado a partir de latas de “Querosene Jacaré”.
Assim, a memória da busca pela água nas primeiras décadas de Teixeira de Freitas se entrelaça com a própria história de seu crescimento urbano. Aquilo que hoje parece simples, abrir a torneira e ver a água tratada correr, foi, em outros tempos, resultado de esforço físico, caminhadas exaustivas e de uma solidariedade comunitária que garantiu a sobrevivência dos moradores do povoado, hoje cidade.
Daniel Rocha da Silva – Historiador graduado e pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB – Campus X. Contato: WhatsApp (73) 99811-8769 | E-mail: samuithi@hotmail.com
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Foto: Rua D. Pedro I – Bairro Wilson Brito. Década 80.
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