Por Daniel Rocha 

Na década de 1950, a intensificação da exploração predatória da madeira por empresas madeireiras fez crescer cidades, Medeiros Neto e Itanhém, e povoados como Teixeira de Freitas, no então inacessível interior do município de Alcobaça, extremo sul da Bahia. 

Essas empresas abriam estradas de rodagens para escoamento da madeira, e ao fazer isso, vias de comunicação que permitiram o trânsito maior de automóveis, bens e produtos, nas áreas mais afastadas da sede.  Neste contexto, se tornou necessária a construção de uma ponte sobre o rio Itanhém, Alcobaça/Teixeira de Freitas, para permitir um melhor acesso ao interior do município alcobacense.  

Em 1950, eleito prefeito, Antônio Simplício de Barros, que também era carpinteiro, construiu uma ponte de madeira com as próprias mãos e ajuda de trabalhadores comuns, conforme narra um causo popular e relato do proprietário atual da fazenda.   

Segundo o causo narrado pelo antigo morador Jair de Freitas Correa, anos antes da construção da ponte da Fazenda Cascata em 1950, o ilustre Deputado Federal alcobacense Medeiros Neto, em visita a cidade natal, fez um comício para expressar sua preocupação com o fato de não haver “no Novelo”, parte nobre da cidade, um homem disposto a disputar o cargo de prefeito pelo seu partido, o PTB.  

Diante da repercussão dessa fala, Antônio Simplício de Barros, o carpinteiro da cidade, comentou entre os amigos e com moradores que ele tinha coragem de se candidatar ao cargo, mas não se apresentava porque temia que sua origem humilde e pobre provocasse algum tipo de rejeição, mas a conversa chegou ao conhecimento do senhor Medeiros Neto.  

“Naquela época o povo gostava de fofoca, então durante um comício onde o Deputado voltou a cobrar a coragem dos moradores, um conhecido foi até o palanque e falou para o deputado que um trabalhador, um carpinteiro, tinha coragem de disputar a eleição e ser prefeito, só não encarava porque não tinha dinheiro para tal,” narrou Jair de Freitas. Informado que o jovem estava presente na multidão o Deputado o chamou para discursar. No palanque, o político o segurou pelo braço e perguntou se ele de fato estava disposto a concorrer à eleição pela sua legenda e ser o prefeito da cidade.  Ele respondeu que era pobre e não tinha dinheiro para gastar, no entanto o deputado se mostrou solidário e prometeu colaborar, “o que faltar eu completo.”    

Ainda de acordo com o causo narrado, como candidato o carpinteiro prometeu duas coisas urgentes ao eleitorado: a reforma da prefeitura, “que estava caindo aos pedaços”, e a construção da ponte da Fazenda Cascata.  

Algo que cumpriu tempos depois de assumir o cargo, quando transferiu por alguns meses o comando da cidade ao vice-prefeito e foi para a fazenda Cascata para construir, ele próprio, com a ajuda de trabalhadores da fazenda, uma ponte de madeira sobre o rio Itanhém, onde hoje fica a de concreto na BA 290.  

Foto: Inauguração da Ponte em 1950

Inaugurada com festa pelos moradores da cidade, da fazenda Cascata e representantes da igreja católica, Bispo e padres holandeses, (foto) que percorriam a região evangelizando e promovendo batizados e casamentos, a ponte possibilitou, enfim, um melhor trânsito no antigo território alcobacense, hoje pertencente ao município de Teixeira de Freitas.  

De acordo com José Sérgio, atual proprietário da fazenda Cascata, em uma entrevista ao site em 2013, de fato a ponte de madeira sobre o rio Itanhém foi construída em uma ação conjunta com o então Prefeito de Alcobaça, Antônio Simplício de Barros, popularmente conhecido como “Bitonho, que era um extraordinário carpinteiro.”  Mesma versão que foi publicada no site da fazenda Cascata em 2014. 

A ponte de madeira, brilhantemente construída pelo prefeito carpinteiro, resistiu por mais de dez anos ao rio, permitindo a travessia para ambos os lados, até ser arrastada por uma enchente que concentrou vegetação em suas bases levando a ceder às fortes correntezas. No lugar um outra de concreto foi construída pelo DER-BA, mas também não durou muito, também foi destruída por um forte inundações de 1968.   

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Foto: Acervo Faz. Cascata.

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