Por Daniel Rocha

Na década de 1980 tudo era diferente, havia outros modos de viver, vestir, dançar e especialmente pensar! Ser jovem era antes de tudo ter que vivenciar e enfrentar as dificuldades sociais de uma época em que não havia políticas públicas destinadas à juventude.  

Com o fim da Ditadura Militar e com a redemocratização em 1985, a sociedade civil ganhou mais liberdade e passou a organizar ações, de todo tipo, para reivindicar um conjunto de sucessivas iniciativas visando a solução de problemas ligados à falta de leis voltadas para os mais excluídos da sociedade.

No extremo sul da Bahia, por exemplo, mostra notícias publicadas no jornal A Tarde, 1985, que a juventude da cidade de Itamaraju, então carente de espaços de lazer, esportivos e culturais, se organizaram para reivindicar a construção de um ginásio de esportes e um centro de cultura.

A verdade é que os jovens fazem um apelo ao governo do estado e a todas as autoridades, que estão voltadas para o papel do jovem dentro da sociedade, para que sejam atendidos por um local, onde possam desenvolver os seus esportes com segurança e tranquilidade. (…) Os que existem na cidade são privilégios para poucos, pois pertence a clubes fechados, quando tem acesso, é coisa rara”, observou o jornal A Tarde de setembro de 1985.

Em outra edição do jornal de 29 de novembro de 1986, que não cita o contexto nacional, ficou registrado que as autoridades não haviam respondido o clamor da juventude que já tomava para si o espaço da Praça Castelo Branco, cidade alta, para a prática de todo tipo de esportes, futebol, vôlei e ciclismo. Provocando dessa forma a comunidade, também, a solicitar soluções.

“Os jovens se queixam que procuram aquele lugar, pela falta de uma quadra para a prática das diversas modalidades esportivas e, por ser ali um local onde todos se encontram aos domingos (…). A comunidade pede providências às autoridades para uma solução dos problemas que estão sendo causados por ali”.  

Antes, em abril de 1986, outra iniciativa da juventude já tinha sido noticiada com destaque, a criação da “Associação Cultural da Juventude de Itamaraju” que dentre outras coisas tinha por finalidade organizar o museu de arte da cidade, promover palestras e seminários, concurso e banda de fanfarras.  

Diante dos fatos apresentados é possível considerar que os jovens itamarajuenses conseguiram chamar a atenção dos governantes e da sociedade, como todo, para o problema da falta de espaços de cultura e lazer na cidade e a necessidade da construção de políticas públicas e leis direcionados aos adolescentes das classes menos favorecidas.

Jovens que só se tornaram possuidores de direitos específicos com a promulgação do ECA – Estatuto da criança e do adolescente no início da década de 1990 e o Estatuto da juventude em 2013, quando outros modos de viver e pensar começaram a ser proporcionados por ações públicas.  

Fontes:

O jovem sob três perspectivas: acadêmica, política e cultural. Silvia Helena Simões Borelli, Rita de Cássia Alves Oliveira, Ana Carolina Viestel, Laguna, Ariane Aboboreira e Maria Carolina Silva Fernandes dos Santos. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. 2008

Jovens querem áreas de lazer. Evandro Lima. A Tarde, 18/09/1985. Acervo do site tirabanha.

Jovens criam museu de Itamaraju. Evandro Lima. A Tarde, 18/04/1986. Acervo do site tirabanha.

Associação de Jovens de itamaraju. Evandro Lima. Jornal A Tarde, 29/02/1986. Acervo do site tirabanha.

Foto: Praça de Itamaraju. Ano e autor desconhecido. Fonte: Site IBGE.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Latees.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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