Por Daniel Rocha
Em 1988 foi à vez da cidade de Itamaraju se tornar por alguns dias, simbolicamente, a capital do Estado da Bahia. Tal como fez o antecessor Antônio Carlos Magalhães (PFL) na década de 1970 elevando Teixeira de Freitas a essa posição, o governador Waldir Pires (PMDB), acompanhado de todos os seus secretários, elegeu a cidade capital simbólica e despachou durante dois dias no município.
Do mesmo modo que nas primeiras transferências para região em 1970, outro movimento separatista pedia uma nova divisão do Brasil e emancipação do Sul e Sudoeste Baiano e parte de Minas Gerais para a criação do Estado independente de Santa Cruz. O movimento foi incentivado pelos produtores de cacau da região sob a liderança do prefeito de Itabuna Fernando Gomes, na época deputado Federal pelo PSDB.
O estado seria formado pelo desmembramento de áreas dos Estados da Bahia e Minas Gerais, englobando 153 municípios do primeiro e 12 do segundo, transferindo para Minas Gerais parte do mar da Bahia, através de municípios como Alcobaça, Caravelas e juntando cidades como Ibirapuã, Lajedão, Medeiros Neto e Nova Viçosa a outras mineiras.
Em 18 de Agosto de 1987 o assunto fez parte da pauta de uma reunião orquestrada por lideranças políticas do extremo sul, Deputado Maurício Cotrim. O evento foi realizado na Câmara Municipal de Itamaraju que na época nutria grande insatisfação com a política estadual para com o município. “Atualmente no extremo sul do estado, existe um grande número de pessoas que esperam a pronta divisão do estado, inclusive vereadores locais,”destacou o jornal A tarde.
De acordo com um Informativo Publicitário de 1988, o então prefeito da cidade de Teixeira de Freitas, Temóteo Brito, em seu primeiro mandato, também estava insatisfeito com a política estadual de repasse de recursos do estado governado pelo adversário de seu grupo político e apostava na divisão da Bahia para obter recursos necessários às demandas da cidade.
” O Extremo sul deveria ser desmembrado e vinculado posteriormente ao Estado de Minas Gerais, debatendo a máxima de que ‘dividir a Bahia é dividir Caetano Veloso’. Na sua opinião, Minas sempre almejou este casamento que propiciaria ao estado uma abertura para o mar e em consequência, um futuro corredor de exportação”, algo que beneficiaria o município que tinha como principal atividade econômica a agricultura e a pecuária ligada a fronteira mineira.
Tais reações podem ter motivado a transferência simbólica da capital para a cidade de Itamaraju onde o governador Waldir Pires lançou um programa para o desenvolvimento econômico e social da região, que, por falta de infraestrutura, vinha sendo fortemente influenciado pelos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo e enfrentava uma estiagem sem precedentes.
O governador foi recebido com grande entusiasmo pela população e membros do MST local que perseguidos por pistoleiros esperavam a concessão de áreas para assentar famílias acampadas, muitas expulsas de suas terras pela grilagem. O projeto conservador para a criação do Estado de Santa Cruz foi derrotado na Câmara Federal por não ser considerado viável financeiramente, tal como outras propostas existentes na época.
Fontes:
Bahia de todos os fatos: cenas da vida republicana, 1889-1991. Front Cover. 1997 – Bahia
Memórias das Trevas – uma Devassa na Vida de Antônio Carlos Magalhães. João Carlos Teixeira Gomes; Ano: 2001; Editora: geração editorial.
Informe Publicitário. 1988. Arquivo site tirabanha
Deputados fazem debate em Itamaraju. A tarde. 18/08/1987.
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
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