Por Daniel Rocha

O sábado entre a semana santa e o domingo de páscoa é chamado de Sábado de Aleluia. Dia de lembrar a ressurreição de Jesus e a traição cometida pelo seu discípulo Judas Iscariotes. Dia também, segundo a tradição católica, de queimar o boneco do Judas traidor. Em Teixeira de Freitas das décadas de 1960,1970 e 1980 a brincadeira tradicional foi realizada em diversos bairros da cidade.

Em 2015 durante uma conversa informal, Maria de Fátima Leite, natural de Águas Formosas, MG, que mudou para Teixeira no ano de 1969, relatou que um antigo morador conhecido como “Paulo” realizava a queima do Judas na madrugada do sábado de aleluia no bairro Wilson Brito.

A “malhação do boneco,” feito com palha e madeira, começava às três horas da manhã aos gritos e vaias de uma multidão formada por inúmeras crianças e adultos que, antes da queima, apedrejava o boneco “sem dó e nem piedade” na escuridão de um povoado sem acesso a iluminação elétrica.


Imagem Meramente Ilustrativa

Já no bairro Teixeirinha, década de 1960, os moradores participavam através de cânticos e palavras de ordem relacionada ao feito, lembra a moradora Ricardina Maria sobre a queima no bairro. Antes de ser queimado o boneco era arrastado pelas ruas puxado por um Jegue e deixado na porta de um morador ao som de rimas e cantigas que faziam referência ao dono da casa. “Esse judas não come farinha. Vai pra casa de seu Farias!”

Já o capixaba Elcilande Ferreira, natural da cidade de Pinheiros (ES) lembrou que a queima também era realizada no Vila Vargas, bairro onde passou toda infância e adolescência. Naqueles tempos, década de 1980, a queima era realizada na Rua Aurelino J. de Oliveira e o ritual começava dois dias antes com a busca entre os vizinhos de doações de roupas velhas para confeccionar o boneco.

No dia de malhar o judas, o boneco, preenchido com roupas e jornais, era colocado em uma carroça, puxado e lixado pelas ruas do bairro enquanto a sentença era anunciada como o um último grande ato da semana santa.

Foto: Suposto Bairro Teixeirinha. Ano desconhecido.

No bairro São Lourenço da década de 1980 a tradição também era encenada, Flaviana Melquiades recordou que antes de ser queimado no sábado pela manhã um boneco era confeccionado pelos residentes com roupa e sapatos “de gente” doados por moradores da referida rua. O boneco era colocado em um poste de madeira no meio da rua da feirinha de domingo, para ser zombado pelos passantes que buscavam saber o horário do castigo.

No dia seguinte pela manhã, o ritual começava com o apedrejamento e agressões. Homens e meninos cutucavam e espancava o boneco do Judas antes da condenação final. A encenação era muito violenta e segundo Flaviana; “aterrorizava muito as crianças menores porque o boneco tinha uma fisionomia muito próxima da humana.”

Diante dos relatos é possível perceber que a manifestação cumpria bem seu objetivo de recordar a ressurreição de Jesus e a traição cometida pelo seu discípulo Judas, mensagem facilmente assimilada pela comunidade que não encontrava dificuldade em modificar o rito de acordo as necessidades práticas e  próximas.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Fontes Orais

Conversa informal com

Flaviana Santos               Dezembro de 2015

Elcilandi Ferreira .          Dezembro de 2015

Maria de Fátima Leite   Maio de 2016

Ricardina Maria.             Maio de 2016

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