POR ERIVAN SANTANA*

Com a pandemia do novo coronavírus, os meios de comunicação têm colocado em pauta apenas este assunto, e em alguns casos com uma certa dose de sensacionalismo, deixando de responder a uma pergunta essencial: Qual é a origem do novo coronavírus? 

Nessas situações, proliferam relatos conspiracionistas na internet, dizendo que isso se deve a “certos hábitos alimentares dos chineses”, aumentando assim, o preconceito a este povo. 

Pois bem, retornando à pergunta, a jornalista e cientista Sonia Shah,em brilhante artigo publicado na revista Le Monde Diplomatique Brasil, de março de 2020, nos faz um importante alerta do ponto de vista ecológico. Segundo ela, “Muitos micróbios convivem naturalmente com os animais, sem lhes causar mal algum.

O problema está em outra parte: com o desmatamento, a urbanização, e a industrialização desenfreados, nós oferecemos a esses micróbios meios de chegar e se adaptar ao corpo humano”. 

Com a destruição dos habitats naturais, perdemos o equilíbrio da interdependência ambiental, restando aos animais sobreviventes buscar refúgio nos habitats que sobram, o que os aproximam dos humanos, permitindo assim, passar estes micróbios para os seus corpos. 

Em seu artigo, a jornalista faz uma interessante retrospectiva histórica, dizendo que “O fenômeno de mutação dos micróbios animais em agentes patológicos não é novo, tendo surgido com a revolução neolítica, quando o ser humano começou a destruir os habitats selvagens para ampliar as terras cultivadas e a domesticar os animais, transformando-os em bestas de carga”. 

A natureza opera em um sistema de “lei natural, de ação e reação”, desta forma, com os animais vistos apenas como fonte de lucro e alimento em larga escala, passaram a transmitir doenças ao homem, como as vacas que nos trouxeram a tuberculose, os porcos a coqueluche e os patos, a gripe. 

As pandemias causadas pela intrusão do homem em ambientes naturais continuam atuais, como o lentivírus do macaco que se tornou o HIV, a bactéria aquática dos Sundarbans, conhecida como cólera que já provocou sete pandemias até hoje, a mais recente no Haiti. Outro exemplo recente também foi a gripe aviária, ocorrida na Ásia, provocada pelo amontoamento de centenas de aves, um cenário ideal para a transmissão de micróbios.

O fato é que diante desta perigosa e preocupante pandemia que hora enfrentamos, a globalização industrial e financeira está em cheque, assim como a urbanização e as grandes metrópoles, incluindo o próprio capitalismo, e não sabemos ainda que mundo virá pela frente, mas uma coisa é certa, a questão ambiental deverá e necessitará ganhar cada vez mais relevância, para o bem da humanidade e para as futuras gerações.

*ERIVAN SANTANA. Crônica publicada no jornal A Tarde, Salvador, 13/04/2020

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