Por Erivan Santana

Os estudantes passam em silêncio para a escola, nesta manhã. Com o uso das máscaras, as algazarras e o burburinho diminuíram. O comportamento na escola também mudou, se antes queriam a todo momento sair, agora preferem ficar prestando atenção às aulas e pararam de reclamar, dizendo que a escola “é chata”, e isso ocorreu depois da experiência de estudar pela internet.

 Descobriram que a melhor forma de estudar é na escola, com o convívio com os professores e colegas, o que o sábio Vygotsky já sabia. Mas quem mais celebrou o retorno às aulas, foram os pais e as mães, que não aguentavam mais ouvir falar de “home schooling”.

Bauman sempre alertou sobre a realidade da “modernidade líquida”, mas talvez, não com a precisão que estamos vivenciando.

Já viajei muito de Jeep e de Rural, já vi a TV em preto e branco e que só sintonizava um ou dois canais, o LP e depois o CD, o videocassete, o DVD, a queda do muro de Berlim, as diretas já, a derrota do futebol arte do Brasil para a desacreditada Itália, em 1982, e o vexame em casa para a Alemanha, em 2014, o ataque dos terroristas às torres gêmeas em 2001, a crise econômica de 2008, a partir dos EUA, o advento da internet, o orkut, o facebook, o twitter e o google. O mundo não é pop, é tech.

Os japoneses criaram aparelhos que apitam, quando as pessoas estão muito próximas, e o governo encomendou às operadoras de telefonia, aplicativos que rastreiam os cidadãos, denunciando se ficam na rua até muito tarde, com quem saem e também se há aglomeração de pessoas. Um dos efeitos imediatos do tal aplicativo está sendo o aumento vertiginoso das separações, e as brigas entre os casais.

O fato é que ninguém aguenta mais tantas lives e podcasts, que vieram para ficar. Os cinemas, casas de shows, estádios, bares e restaurantes, voltaram a funcionar, mas o público diminuiu, ainda com receio do covid-19.

O uso das máscaras se tornou obrigatório, de modo que há de todos os tipos e modelos, inventaram até uma que dissimula, sem que se saiba ao certo se a pessoa está rindo ou chorando.

De qualquer forma, o consumo caiu, as viagens diminuíram, o céu está mais azul, e as árvores estão mais verdes. Têm pessoas que se tornaram mais gratas e humildes, mas outras seguem, como se nada tivesse acontecido. É a vida. Abro o livro de Filosofia por acaso, e me deparo com a fotografia da Monalisa sorrindo. Da Vinci sabia das coisas.

ERIVAN SANTANA

Erivan Santana é professor, escritor e poeta

A crônica “Um dia em 2021”, foi finalista do Prêmio Off Flip 2022

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