Por Daniel Rocha*

Para o casal sobrevivente, o americano Harvey Thorpe e Inês Carvalho de Farias, essa história começou quando estavam em Porto Seguro participando de um encontro de entidades ambientalistas  quando resolveram aproveitar a passagem pelo extremo sul baiano para conhecer o Arquipélago dos Abrolhos, localizado a cerca de 70 km da cidade de Caravelas, seguindo  algumas referências recebidas por amigos ambientalistas que indicaram a cidade de Alcobaça como um  ponto de partida para as ilhas.

Eles contaram  que chegando em Alcobaça, na época uma cidade turística ainda com pouco infraestrutura,  entraram em contato com os  irmãos Rui César, João e Grinaldo Silveira, donos da embarcação “Bonfim II”, uma barco de madeira de  nove metros de comprimento, na época, muito usada para esse tipo de passeio e turístico.

Desse modo, nas primeiras horas da manhã do dia 23 de junho de 1987, uma terça-feira, o casal tomou o barco no porto da barra em direção ao  arquipélago com outros turistas mineiros, três moças e dois rapazes de Belo Horizonte, Neiliane Fernandes, Glícia Maria Lopes de Souza, Jorge Augusto dos Santos e Cristóvilo Sarandápolo e uma mulher de prenome Wilce.

Próximo ao local, depois de algumas horas em alto-mar, os tripulantes e responsáveis pelo barco, Rui César, João e Grinaldo Silveira, o primeiro dono da embarcação, diminuíram a velocidade para que os passageiros conhecessem os arrecifes dos ” Corais de Pedra Grande”, um lugar de beleza única que na época era mais conhecido  como “Cemitério de Navios”.

Contudo o mar não estava para peixe, chovia muito, e no momento que  a embarcação diminuiu a velocidade uma grande onda desabilitou o barco e uma segunda e mais forte virou a embarcação jogando todos ao mar. Ainda de acordo com os relatos dos sobreviventes, depois do sinistro, todos foram atirados na água e com dificuldade o grupo conseguiu manter-se à tona segurando os objetos flutuantes das bagagens. “Os rostos eram de pavor, mas não houve pânico”, afirmou Inês Farias.

Uma das passageiras “teve que ser arrastada pelos cabelos até o casco flutuante do barco quando se debatia na água temendo a morte”, relatou o americano Harvey Thorpe em uma entrevista a um jornal da época.

Duas horas depois de esperar por ajuda e pressentindo uma outra tragédia, o casal de sobreviventes que antes da grande onda  já havia se equipado com óculos, lanterna e pés de patos para um mergulho nos corais, decidiu nadar em direção, amarados a objetos flutuantes, ao distante litoral em busca de ajuda.

Dezoito  horas depois de um esforço sobre-humano, chegaram  já de madrugada ,guiados por luzes no horizonte, ao povoado da Barra de Caravelas, 25 quilômetros ao sul do local do acidente, onde fazendo uso de uma lanterna marítima emitiu sinais que chamou a atenção de um motorista que passava  de carro  em uma estrada próximo ao local.

Debilitados e emocionalmente arrasados,  o casal foi retirado da água por dois pescadores em uma canoa comum e  trazidos semi-inconscientes para o Hospital Regional de Caravelas.  Uma semana depois  do ocorrido, seguiram para Minas carregando a lembrança do drama de ter tido que deixar os companheiros à deriva no mar. 

Depois de ser notificada, um navio da capitania dos portos de Porto Seguro e dois aviões da FAB e diversos pescadores realizaram a busca no local durante dias, mas no local onde ocorreu o naufrágio só foram achados os destroços do barco Senhor do Bonfim. Os corpos dos outros turistas nunca foram encontrados.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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