Por Lizete Caires*

A região Costeira do litoral da Bahia é uma grande produtora de coco e abastece as cidades vizinhas, o Estado da Bahia e outros estados do Brasil. Segundo a narrativa contada pelas filhas do Sr. Benedito, D. Maria Antônia e D. Maria do Rosário, o Sr. Benedito Lucindo dos Santos, seu pai, fixando residência na sua porção de terra adquirida do Sr. Zé de Vaninho começou a trabalhar juntamente com o Sr. Bernardino para o Sr. Abraão, vendendo coco para este nas cidades circunvizinhas.

Numa dessas viagens realizadas para vender um carregamento de coco, através de canoa, onde ambos estavam levando para a Cidade de Alcobaça, no caminho, eles começaram a furar os cocos, beber a água e depois fechava o coco novamente. O comerciante que recebeu o carregamento de coco em Alcobaça percebeu o acontecido com os cocos recebidos e passou a apelidar o Sr. Benedito e o Sr. Bernardino de Fura Coco.

O Sr. Bernardino não se incomodou com o apelido, mas o Sr. Benedito ficou chateado e não gostava de ser nomeado com o tal apelido, devido a esse acontecimento, o Sr. Benedito e seus descendentes ficaram conhecidos na região como Fura Coco, dando assim nome à comunidade onde eles viviam.

Numa conversa com a Sra. D. Maria do Rosário, ela narrou parte da história de sua família. Segundo ela, seus pais moravam na região do Rio Itaitinga e lá eles possuíam uma porção de terra considerável. Mas com o passar dos anos seu pai foi vendendo em partes, diminuindo assim a propriedade e com isso o patrimônio da família (a terra) foi se desfazendo, foi diminuindo, levando eles a migrarem para a região onde hoje reside há 40 anos. D. Maria do Rosário relembra com saudosismo da região do Itaitinga, onde ela nasceu e cresceu. O Sr. Benedito faleceu na Comunidade Fura Coco, com a idade de mais 90 anos.

A Sra. D. Maria do Rosário tem 69 anos, é uma pessoa que demonstra muita felicidade, é sábia e muito acolhedora. Ela conta sua história de vida com muito carinho e alegria dos bons anos vividos ao lado do esposo, filhos, netos, bisnetos, genros e noras. Vive há quase 40 anos na comunidade Fura Coco (filha do Sr. Benedito), ela nasceu na região do Itaitinga, lá cresceu, casou com o Sr. José Silva (Sr. Zé Silva) com quem teve vários filhos, netos e bisnetos.

Ao longo desses quase 40 anos na comunidade, D. Maria do Rosário e sua família vivem da agricultura familiar, plantando, colhendo e transformando os alimentos aqui plantados. Hoje, D. Maria do Rosário, seu esposo e uma das filhas (Marizete) produzem beijus, tapiocas, bolos, moquecas (produtos da mandioca); plantam milho, mandioca e amendoim.

Esses produtos são vendidos na feira de sábado em Prado e Alcobaça. Na propriedade do Sr. Zé Silva e D. Maria do Rosário há uma farinheira (Casa de Farinha) de propriedade particular (da família) e a família de D. Maria, exercendo

seu sentimento de viver em comunidade, cedeu um espaço em sua porção de terra para a construção de uma Farinheira para uso coletivo, que está sendo construída com a ajuda da comunidade (Associação de moradores da Comunidade Fura Coco) e com a contribuição da empresa Suzano Papel e Celulose.

Para Araújo (2016): “O que é uma casa de farinha? Os pouco informados se apressarão em dizer que é um simples espaço onde se faz farinha e que suas características físicas e o modo como se faz farinha nas chamadas farinhadas ainda é marcado por técnicas e ferramentas rudimentares aí presentes desde o período colonial quando era usada por indígenas e desbravadores” (p. 02).

Ainda, segundo Araújo (2016) “A casa de farinha é o que podemos chamar de “lugar de memória” no cotidiano dos farinheiros, onde a relação entre as coisas e os homens vai se moldando na prática e nas maneiras de usar ferramentas que, ao mesmo tempo em que são marcadas pelo uso humano, também delimitam a ação do homem que tende a se adaptar, “conscientemente ou não” à estrutura do objeto”. (p.02). Nesse ambiente, a partir de quinta-feira, começam a produzir os alimentos derivados da mandioca para ser vendido no sábado nas feiras das cidades vizinhas de Prado e Alcobaça.

Para o deslocamento, da comunidade até as Feiras das cidades vizinhas, a comunidade conta com um ônibus, cedido pelas prefeituras dessas cidades, que levam os moradores às quatro (04) horas da manhã e retorna às 15hs com os mesmo para a Comunidade. Tem alguns moradores que se deslocam para as feiras em seus veículos próprios.

A mandioca como alimento é um dos alimentos bases para milhões de pessoas em várias partes do mundo. Segundo Silva, Alves e Aquino (2011), a mandioca: “Representa um dos principais alimentos energético e fonte de carboidrato para cerca de milhões de habitantes que vivem nos países em desenvolvimento, onde é cultivada em pequenas áreas como agricultura familiar de subsistência com pouca tecnologia, voltada às necessidades do pequeno produtor principalmente para o preparo de farinha de mesa” (p.07).

Sendo que 87% da agricultura familiar é a produção da mandiocultura. Nesse ínterim, esse alimento representa um dos principais produtos da agricultura familiar brasileira, não sendo diferente na Comunidade Rural Fura Coco, sendo que é a partir da mandioca que diversos produtos são produzidos e comercializados nas feiras livres das cidades vizinhas de Prado, Alcobaça e Itamaraju. Conforme Silva, Alves e Aquino (2011): O cultivo dessa cultura exerce não só uma função social, mas também contribui na economia local (p.07).

Nesta perspectiva, as vendas diretas dos produtos da agricultura familiar nas Feiras possibilitam também o encontro de produtores de diversas localidades, havendo uma dinâmica de sociabilidade entre o rural e o urbano bem como trocas culturais que dá a possibilidades dos envolvidos a sociabilizar seus viveres, histórias e fazeres cotidianos.

Referências

ARAÚJO, Francisco Evandro de. As coisas e os homens: casas de farinha, cultura material e experiências do cotidiano das farinhadas. Temporalidades – Revista de História, ISSN 1984-6150, Edição 22, V. 8, N. 3 (set./ dez. 2016). Disponivel em: file:///C:/Users/35/Downloads/5792-Texto%20do%20artigo-18971-1-10-20170131.pdf. Acessado em:18-08-2021.

SILVA, Antônio Carlos belo da; ALVES, Maria Aparecida Vanderlei; AQUINO, Denize Tomaz de. A IMPORTÂNCIA DA PRODUÇÃO DA MANDIOCA NA COMUNIDADE DO CASTAINHO- GARANHUNS-PE. Breves Contribuciones del I.E.G. – Nº 22 – Año 2010/11 – ISSN 0326-9574 – ISSN 2250-4176 (on line). Disponível em: file:///C:/Users/35/Downloads/Dialnet-AImportanciaDaProducaoDaMandiocaNaComunidadeDoCast-4055908%20(2).pdf. Acessado em: 18-08-2021.

Lizete Caires Barros Martins* 

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia -Uneb. Bacharelada  em Serviço Social pela Universidade Pitágoras Unopar. Pós-graduada em Gestão e Organização da Escola pela Universidade do Norte do Paraná-Unopar. Graduanda em Pedagogia pela Universidade do Norte do Paraná-Unopar. Professora da Rede Municipal de Ensino de Teixeira de Freitas e Medeiros Neto Bahia

Compartilhar: