Por Daniel Rocha*

Em 1964, o então povoado de Teixeira de Freitas,Bahia, ganhou sua primeira sala de cinema, o Cine Elisabete. A sala pioneira teve como primeiro fenômeno de público o filme hispano – italiano Dio, come ti amo! (1966)  cujo enredo romântico falou à geração da época que começava a vivenciar uma série de transformações nos costumes, modo de pensar e socializar.

Segundo o proprietário do Cine Elisabete, o senhor José Militão Guerra (em memoriam), em entrevista cedida em 2009 ao trabalho monográfico: O cinema e o imaginário popular na cidade de Teixeira de Freitas na década de 1960 a 1980, o filme italiano foi o primeiro fenômeno de público da sala popular que funcionou de 1966 a 1970, ao lado de onde hoje fica a loja Boroto Calçados.

Ainda de acordo com o senhor Militão, naquele tempo que não existia no então povoado energia elétrica, televisão ou emissora de rádio, o cinema foi uma grande novidade que empolgava os moradores da zona rural próxima e a juventude urbana do então povoado, principalmente algumas meninas que viviam da escola para casa ou de casa para igreja.

Por isso para essas moças e meninas ir o cinema era uma ocasião especial, momento de sair de casa junto aos irmãos mais velhos ou com os rapazes de confiança da família, relatou uma antiga moradora, Marli Gomes, em 2009, queixando se do excesso de vigilância em uma época que aumentava o trânsito na região com início da circulação de ônibus intermunicipais ligando Teixeira a outras cidades próximas e abertura das primeiras escolas.

Março de 1966: anúncio de novas linhas de ônibus .

Contudo, apesar do conservadorismo local vigente, típico do interior, eram os anos de 1960, década que a música italiana e Rita Pavone experimentava grande popularidade e o movimento feminista reivindicava, nos grandes centros, direitos iguais e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões patriarcais, baseados em normas de gênero através do debate público.

É nesse contexto que o filme “Dio como eu te amo!”, que traz uma mulher como protagonista, atraiu grande público para a primeira sala de cinema da cidade, transformando-se no filme mais assistido daquela época e de todo o período que o Cine Elisabete esteve em atividade, sempre com relativo sucesso.

No filme que era considerado ousado para época, Gigliola Cinquetti é uma jovem e humilde nadadora napolitana que ao concorrer em uma competição na Espanha acaba se apaixonando pelo noivo de sua melhor amiga, vivendo um amor impossível com direito a um beijo proibido.

No livro “A história do amor no Brasil”, a historiadora Mary Del Priore observa que nesse período o cinema passou a apresentar cada vez mais personagens livres e desapegados a regras e tradições.  Comportamento que foi sendo aos poucos comunicado pelo cinema incentivando as pessoas a se relacionarem sem sentimento de culpa ou reprovação.

Cena clássica: Beijo proibido

De acordo com o relato de moradores da época, a fita atraiu  um público formado, em sua maioria, por adolescentes  que  no final da sessão saíam cantarolando a música tema do filme e provavelmente sonhando com a liberdade  dos personagens e o mesmo protagonismo da mocinha romântica…. Apesar da simplicidade e alguns clichês do enredo.

Fonte:

ROCHA.Daniel; OLIVEIRA.Danilo. Cinema – Contribuição no processo de Formação da Sociedade de Teixeira de Freitas nos anos de 1960, 1970 e 1980.

DEL PRIORE, Mary. História do amor no Brasil. 2ª ed – São Paulo: Contexto, 2006.

Foto: Avenida Marechal Castelo Branco, Centro, Teixeira de Freitas – BA. Ano desconhecido. Ponto de embarque de ônibus próximo o antigo Cinema.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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