Por Daniel Rocha

A fotografia da análise não tem data nem legenda, também não informa quem foi o fotógrafo responsável pelo registro e nem sua intenção, mas é um autêntico registro de um cotidiano comum na paisagem cultural da cidade na década de 1980. Esse registro também despertou lembranças em alguns moradores.    

Capturada em um vídeo que mostrava várias outras fotografias antigas de Teixeira de Freitas, BA, que foram disponibilizadas na internet em 2013, em tese, mostra uma das ruas em torno do atual “Mercadão” e parte da antiga “Feira da Pauleira”, antes da construção do Centro de Abastecimento, ocorrido em 1988, no período anterior ao incêndio que destruiu as antigas barracas anos antes. 

Do lado esquerdo da fotografia é possível observar o estilo das Barracas da Feira, feito de madeira, pau, e outros tipos de materiais, que rendeu ao lugar a alcunha “Palsoeira.”  

No centro da fotografia, uma vala comum corre água, não sendo possível determinar se é oriundo de esgoto doméstico ou da própria feira. A vala evidencia a falta de saneamento básico no local no período do registro.

Foto analisada

 O fato de não ter ignorado o problema sugere que a intenção do fotógrafo foi de registrar o problema sanitário, a fim de mobilizar e, talvez, cobrar uma intervenção das autoridades no contexto da emancipação do município, ocorrida no período, onde naturalmente os problemas do município se tornaram assunto de debates sociais mais intensos. 

Mais ao fundo, de forma desfocada, é possível ver uma figura masculina, atrás de uma galiota, Carrinho de Mão, utilizado na época para transportar os produtos comprados por donas de casa até suas residências, mediante acordo e pagamento. Bem à esquerda, figuras femininas, senhoras, compram em uma das barracas da feira.  

Em primeiro plano, também é colocado em destaque um “Carrinho de Frete” de madeira, muito comum e utilizado na época por adolescentes e crianças trabalhadoras que faziam renda como entregadores para auxiliar no orçamento doméstico de suas famílias ou, simplesmente, ter a própria renda e independência, conforme traz os relatos de alguns moradores postado no grupo Museu Virtual de Teixeira de Freitas em 2013.  Veja:

Para a historiadora Ana Maria Mauad (2004), a fotografia é um símbolo, aquilo que,no passado, a sociedade estabeleceu como a única imagem a ser perenizada para o futuro. Dessa forma, todo documento é monumento; se a fotografia informa, ela também conforma determinada visão de mundo.

Por fim, a fotografia permite dar uma olhada no universo cotidiano das pessoas que vivenciaram a rotina da antiga feira da “Palsoeira”, em meados da década de 1980, e as conexões estabelecidas pela feira com as classes próximas ou mais desfavorecidas da cidade, de longe os mais numerosos em termos demográficos.  

Fontes:

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia, Belo Horizonte, 2011.

SANTOS, Alzinete Ferreira; MAIA,Talita Alves. A FEIRA LIVRE, UM OLHAR PARA A CIDADE DE TEIXEIRA DE FREITAS-1960 a 2009. UNEB-X 2010.

MAUAD, Ana Maria. Fotografia e história – possibilidades de análise. In: CIAVATTA, Maria;ALVES, Nilda (Orgs.). A leitura de imagens na pesquisa social: história, comunicação e educação. São Paulo: Cortez, 2004.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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