Por Daniel Rocha

Na década de 1980, período anterior e pós emancipação política da cidade, um dos desejos da população era ver suas ruas e principais avenidas arborizadas.Esse desejo pode ser captado nos discursos políticos da época, publicado em revistas e jornais, onde  lideranças do então povoado expressava preocupação com o tema.

Em 1985, por exemplo, após a emancipação, o então prefeito de Alcobaça, logo do povoado de Teixeira de Freitas,Wilson Brito,  destacou em uma entrevista ,a Revista Banco do Nordeste, que “a preocupação no momento, pós plebiscito de emancipação e realização da primeira eleição municipal,  se voltava para a estruturação dos bairros mais carentes”. Onde afirmou:

“No momento, estão sendo realizadas obras de saneamento básico e pavimentação ( Calçamento a paralelepípedo) no chamado de Buraquinho, próximo à praça da Feira. A rede de esgoto ( a primeira da cidade)  já está instalada. O objetivo é melhorar as condições sanitárias da feira (…) depois, tais serviços serão estendidos ao resto da cidade.”

De acordo com as memórias do engenheiro Carlos Mensitieri, um dos pioneiros na execução de obras de planejamento e ordenamento urbano na cidade,  no livro “A recente história de Teixeira de Freitas: um depoimento”,  de 2019, foi mesmo nesse período que começou os primeiros investimentos em urbanização do povoado,  prestes a se emancipar, feito pelo então prefeito Wilson Brito: 

“ (…) foram solicitados vários serviços, entretanto, gostaria de relatar dois, que considero mais importantes: o primeiro trata do levantamento da área onde estava localizada a feira livre de Teixeira de Freitas, referente à administração do município de Alcobaça, na Avenida Antônio Carlos Magalhães, e o segundo refere-se à confecção da planta urbana da cidade.”

No mesmo parágrafo do livro o Engenheiro também lembra que a gestão do então povoado em processo de emancipação havia solicitado a planta do “ambulatório central, com um projeto de  ampliação, que se fazia necessário para obtenção de verba do governo do Estado, e devido a isso foi possível se fazer a ampliação e reforma do referido ambulatório.”

Considerando o contexto do momento, emancipação evidente, e troca de comandos e poder, é possível supor dois teoremas, as obras estavam ocorrendo tardiamente próximo a emancipação devido ao fato do povoado caminhar para se tornar cidade independente, logo mais estruturado, ou que havia no momento uma facilidade para acesso a verbas governamentais para esses tipo de melhoramento.

Em outro trecho da entrevista, o prefeito lembrou que o maior desafio para o novo município era a tradicional carência de recursos que obrigava deixar para depois  a construção de jardins e a urbanização do centro e focar nos bairros mais carentes.

Importa lembrar que Teixeira de Freitas, mesmo já emancipada depois do plebiscito, ainda era um povoado  dividido entre dois municípios, Alcobaça e Caravelas. Isso significa dizer que esses poucos melhoramentos se deram de um lado e não no todo, já que o prefeito entrevistado pela revista foi o de Alcobaça.  “Prefeito da maior parte do povoado.”

Assim, a foto que selecionamos para análise ,em destaque, é uma das que ilustra a página onde o prefeito falou a respeito das pavimentação referente ao bairro  “ Buraquinho”, atual Wilson Guimarães. Com base nisso, e numa análise in loco, e consulta a moradores,  constatou-se que o registro se refere ao bairro citado pelo prefeito, mas precisamente a rua Belo Horizonte.  

Na mesma, que foi feita pelo fotógrafo Jeová Franklin de Queiroz,  enumeramos alguns detalhes que revelam informações captadas e pouco percebidas por um olhar ligeiro no registro passado.

No destaque número  01 é possível observar casas comuns de trabalhadores em  ampliação ,ou reforma, que indicam que o bairro estava em plena ocupação. Naquela época   o povoado se destacava como uma potente fronteira agrícola do Estado e a população crescia com a chegada de novos moradores migrantes.

No destaque 02 – às ruas pavimentadas com paralelepípedos, “as primeiras da cidade”, do lado alcobacense, “pavimentadas e  com rede de esgoto”, conforme relatou o prefeito Wilson Brito . No destaque número 03 – é possível observar quintais com grande quantidade de árvores frutíferas, isso sugere hábitos dos moradores mais antigos oriundos do campo, como também  já foi observado em outras análises fotográficas de outras partes do então povoado.

Nos destaques 04  e  05,  além de focar nas casas de trabalhadores ,moradores do bairro, o plano fotográfico escolhido, focou no horizonte uma parte próxima do centro, onde algumas construções comerciais já surgem e ao longe, segundo uma moradora consultada,  a torre da Primeira Igreja Batista, antigo prédio da igreja, também se destaca.

O plano fotográfico ocultou a parte mais baixa do bairro que ainda hoje tem infra-estrutura caótica e sofre com o despejo de águas da chuva do centro que escorre para lá e a outra parte da ladeira que até os dias atuais não conta com pavimentos, isso evidencia que, também, a fotografia tinha como função imagética educar o olhar, político,  para o que já existia e não o que faltava, tal como hoje faz as propagandas oficiais dos governos.

Fontes e referências: 

MENSITIERI, Carlos. A recente História de Teixeira de Freitas: Um depoimento! Perse. São Paulo, 2019.

MAUAD, Ana Maria. Na mira do olhar: um exercício de análise da fotografia nas revistas ilustradas cariocas, na primeira metade do século XX

BANCO DO NORDESTE, As origens. Teixeira de Freitas, Fortaleza – Ceará. Janeiro 1985.

Daniel Rocha da Silva* : Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.  Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com 

O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. Facebook 

Compartilhar: