Por Daniel Rocha*

Em 15 de novembro de 1984, foi realizado o plebiscito onde os moradores do povoado de Teixeira de Freitas, então dividida pela Avenida Castelo Branco entre os municípios de Caravelas e Alcobaça, escolheram não depender mais das cidades-sede. Um ano e alguns meses depois, 1985, houve a eleição que elegeu Timóteo Alves de Brito como o primeiro prefeito da cidade recém-emancipada.

Segundo a moradora Lília do Carmo,48 anos, no dia da emancipação política da cidade  houve uma grande festa nas principais avenidas e na praça da rodoviária hoje conhecida como  Praça da Bíblia, lembra ainda que a emancipação trouxe  grandes expectativas aos moradores.

“Minha mãe quando chegou da cidade de Candeias para morar cá de início não gostou muito porque a cidade não tinha estrutura, nossa rua , D. Pedro Primeiro no bairro Wilson Brito  mesmo era só o barro, mas como a emancipação era promessa de melhoras  resolveu ficar”.

A expectativa que refere foi criada envolta da realização do plebiscito em 15 de novembro de 1984 onde os moradores do povoado de Teixeira de Freitas optaram pela emancipação. Um ano depois, 1985, foi realizada eleição para a escolha do primeiro prefeito que só assumiria o cargo em 1986. A movimentada eleição deixou eufórica o grande povoado que na época contava com 50 mil habitantes.

De acordo com Jailson C. Pereira Guerra e Leonardo Santos Silva, no trabalho mais completo sobre o assunto O processo de emancipação política de Teixeira de Freitas (1972-1985),   disputaram a prefeitura os candidatos; Franscitônio Pinto, Vitor Ferreira de Guimarães e o vencedor Timóteo Alves de Brito.

Ainda de acordo com informações do trabalho dos autores, durante a campanha houve discussões acaloradas “ânimos exaltados” e briga entre partidários, 11 mil títulos concedidos irregularmente foram anulados por suspeita de fraude no cartório eleitoral da cidade. Devido a violência e confrontos entre eleitores, tropas federais foram enviadas ao município. Duas mortes relacionada ao processo foram registradas.

O clima de apreensão e violência foi noticiado por um jornal da região e outro do país. De acordo com o jornal, Extremo Sul Agora, de dezembro de 1985. ” Graças às presenças de magistrados das comarcas do extremo sul e à chegada providencial de reforços do Exército Brasileiro, o processo transcorreu num clima de tranquilidade, embora com muito rigorismo, afastando definitivamente as especulações.”

Já o jornal paulista, O estado de São Paulo, de 21 de novembro de 1985 com referência à eleição em Teixeira de Freitas, informou que pós a apuração um recurso do PMDB estava para ser julgado no tribunal superior eleitoral contra decisão do TRE baiano que considerou válidos mais de 11 mil títulos eleitorais anulados pela juíza da Comarca.”

Timóteo Alves de Brito venceu a eleição com 12.660 votos e no dia primeiro de janeiro de 1986 foi empossado prefeito na primeira sessão da câmara realizado no Country Clube Jacarandá, enquanto o povo, na rua,  esperava que o novo prefeito  representasse os interesses das massas mais pobres.

No livro, Os “desbravadores” do Extremo sul da Bahia. História da presença franciscana nessa região -raízes e frutos, observou o Frei Elias que a emancipação não foi  um bom negócio  apenas para Teixeira de Freitas  mas também para a sede Alcobaça.

“Esta emancipação era muito importante, tanto para Teixeira como para Alcobaça. Nos últimos anos, o prefeito residia mais em Teixeira do que no litoral, que ficou quase abandonada, enquanto Teixeira não conseguia desenvolver se livremente.”

O prefeito de Alcobaça Wilson Brito, que administrava a cidade até a posse do primeiro prefeito eleito, disse em entrevista no ano 1985 a revista, As Origens Teixeira de Freitas, que a nova cidade estava fadada a ocupar a posição de capital do extremo sul da Bahia.

Encantado com o potencial agrícola, lembrou que Teixeira de Freitas já nascia como o maior produtor de mamão do mundo e o segundo polo graneleiro do estado.

No presente, 30 anos depois, é triste perceber como um dos alicerces que ergueram a cidade,  agricultura e pecuária , não resistiu à falta de investimentos do estado e a agressividade da monocultura industrial.

Passando de “pau para cavaco”, Lília do Carmo recorda que no primeiro aniversário da cidade  foram realizados eventos culturais, religiosos e uma festa para toda a população teixeirense.

Festa que ainda hoje,mesmo recebendo outras denominações nas últimas décadas como Axé Teixeira, Viva Teixeira, Teixeira folia, nunca deixou de ser chamado pelos moradores de “ festa da cidade” graças a memória das festividades da emancipação ainda muito forte entre todos aqueles que testemunharam o momento mais importante da nossa história política.

Atualizado em 26/03/16

Referencial:

GUERRA, Jaison C. Pereira; SILVA. Leonardo Santos. O processo de emancipação política de Teixeira de Freitas (1972-1985). UNEB 2010.

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia – História da presença franciscana nessa região -raízes e frutos Belo Horizonte, 2011.

BANCO DO NORDESTE, As origens. Teixeira de Freitas, Fortaleza – Ceará. P.05-07, Janeiro 1986.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X de Teixeira de Freitas – BA

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com.

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 Texto atualizado em 27/09/14

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