Por Daniel Rocha

A rua Mauá, mais conhecida como “Rua do Brega” na região central de Teixeira de Freitas, ainda é conhecida como um local de meretrício. Porém nos últimos anos o tráfico de drogas tem crescido e chamado a atenção da sociedade. 

Quem afirma isso são três ex- frequentadores ao rememorar  no presente experiências vividas no lugar e as recentes manchetes dos portais de notícias da cidade.

Nas últimas décadas, 1970, 1980, 1990, apesar de estar localizada na parte central da cidade, às imediações da Rua Mauá era considerada um lugar periférico que concentrava um número elevado de boates, bares e casas de prostituição.

Os frequentadores eram trabalhadores da indústria da madeira, funcionários públicos recém-chegados ao povoado no período de grande migração. Homens solteiros, bem ou mal remunerados em busca de bebidas, droga, músicas e sexo livre.

Segundo o senhor Beto José do Carmo, 65 anos, natural da zona rural de Alcobaça, que migrou para o então povoado de Teixeira de Freitas em busca de emprego na década de 1970, a rua nunca foi um lugar seguro para os clientes.

O ponto de vista dele é o de quem teve um irmão assassinado por volta de 1975 em consequência de brigas iniciada em um estabelecimento do gênero, por isso atribui o acontecimento ao consumo de bebidas e ciúmes de uma trabalhadora do sexo.

“Deram uma facada no meu irmão pelas costas, ele era conhecido como fecha Brega. Depois de passar a noite no lugar ele havia parado em um Bar para tomar o café quando foi atacado e apunhalado por trás por um dos seus inimigos.”

Apesar da tragédia que abalou a família, Beto José  prefere recordar dos momentos de divertimento e prazer que viveu frequentando os bares da Mauá. Meio sério meio caçoando relata:

“No brega a gente ia e dançava a noite toda, comprava 10 centavos de fichas e colocava no tocador e se acabava de calor… Ainda tinha as mulheres pra animar a gente. “

Na perspectiva de Juares Pontual, 75 anos, mineiro de Juiz de Fora que chegou no dito povoado para trabalhar na construção do hospital SOBRASA na década de 1970, o lugar era de fato sinônimo de festas, brigas e mortes.

“Antigamente a Rua do Brega era como um clube com muita gente tocando, havia um sanfoneiro vestido de lampião que tocava até amanhecer o dia. Brigas eram o que mais se via. Havia uma mulher conhecida como Maria Capixaba que tinha fama de ter matado três dos  seus clientes.”

Lendo essas narrativas para o senhor Pedro Lagos, 70 anos, natural de Salvador, que mudou-se para o povoado de Teixeira de Freitas no início de 1970, a fim de integrar a equipe de um órgão estadual, ouvi e registrei a seguinte construção.

“Era tudo isso e mais um pouco”, reforçou ele, “aquilo era um inferno com anjos, tinha muita briga por conta de mulher porque você só é dono enquanto estava lá, quando saia a mulher era de outro. O consumo e tráfico de drogas já existiam mas não do tamanho que existe hoje. Assassinato nem se fala.”

A conversa informal foi realizada na residência do senhor Pedro, mora a três quarteirões da rua, por isso ao ouvir o nome de Roberto Carlos quase de imediato ligou o aparelho de som com uma seleção de músicas conhecidas como saraivas e colocou a tocar.

“ Naquela época era o que se ouvia por lá…Roberto Carlos não era muito popular. Lembro que um policial que frequentava uma casa de prostitutas matou um homem por conta dessas desavenças, mas não lembro dos detalhes.”

A realidade descrita resiste, e hoje assim como nas décadas passadas, a rua e as adjacências permanece como local destinado a prostituição e a cada dia mais ao tráfico de drogas.

Ilegalidade que vem sendo apontada como a causa dos recentes casos de assassinatos e prisões registrados pela polícia e pela imprensa local. Pesquisando sobre as últimas notícias relacionadas a região selecionei dois casos de grande repercussão nos portais teixeirenses que evidencia a rotina da polícia na rua.

A primeira reportagem escolhida a título de ilustração ocorreu no dia 23 de outubro de 2012 em um prolongamento da rua Mauá quando, segundo portal Sul Bahia News, dois moradores das proximidades foram executados em um posto de gasolina do local.

Informações preliminares ligaram o crime a prostituição e ao intenso tráfico de drogas existente no lugar que “concentrava de oito a 12 estabelecimentos funcionando como pontos de prostituição e tráfico”. Segundo estimativas da polícia.

O segundo caso, diz respeito à prisão de duas garotas de programa” A. P. M. S.  Eunapolitana de 27 anos e I. M. ilheense de 24 anos. Ambas se declararam lésbicas, companheiras e viciadas. A abordagem policial que gerou a ocorrência foi registrada no dia cinco de julho de 2016 na região da sinistra rua que hoje parece tomada pelo comércio ilegal e clandestino de drogas.

Informou o site de notícias Liberdadenews que as duas foram autuadas traficando no fundo de um bar na  Mauá. As manchetes trazem à tona que a violência e a prostituição ainda são práticas que vigoram na rua Mauá. Ainda hoje é visto como  um lugar periférico em pleno centro da cidade.

Fontes

Beto José do Carmo* . Conversa informal realizada em 2009.

Juares Pontual* . Conversa informal realizada em 2014

Pedro Lagos.* Conversa informal realizada em 2016

*Nomes trocados a pedido dos entrevistados

Autores de duplo homicídio na Mauá escapam durante perseguição. Sulbahianews/Uinderlei Guimarães. 24/10/2012 . Disponível em: sulbahia/noticias.

Garotas de programa são presas pela PM com drogas na Rua Mauá em Teixeira. Petrina Nunes. 06 /07/2016. Disponível em: LiberdadeNews

Foto: Imagem meramente ilustrativa. Fonte : Google Imagens.

Daniel Rocha

Historiador, Bacharel em Serviço Social, Pós-Graduado em Educação à Distância (EAD), Cinéfilo e blogueiro criador do blog Tirabanha em 2010.

E-mail: tirabanha@tirabanha.com.br

Contatos do WhatsApp: (73) 998118769

Veja também:

Tirabanha – Os Causos da Rua do Brega: Parte 01

Tirabanha – Causos da “ Rua do Brega”: Parte 02

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