Por Daniel Rocha

Antes  quero deixar claro que a atuação da parteira na cidade não se explica apenas pela ausência da medicina oficial, o saber da parteira é diferente do saber  médico e naturalmente há que prefira o saber popular.

Maria Antônia Conceição Pereira nasceu e cresceu na “Floresta”, uma roça a dois quilômetros do batalhão de polícia da cidade, às margens do Rio Itanhém, onde a família vivia da pesca, agricultura e caça.

Em 1973, ficou grávida do  primeiro filho, procurou de imediato a assistência da parteira Maria de Lourdes Cajueiro Correia, que era solicitada em várias partes do povoado. A parteira também a acolheu durante o nascimento de seus outros 12 filhos, depois deste.

“Quando eu começava a entojar eu já a procurava ela e falava, comadre Lourdes, eu estou cheia, quando eu percebi a gravidez eu passava logo para ela. Dona Maria fazia o acompanhamento a partir daquele dia, orientava que não podia pegar peso, agachar arriscando posição e também com o banho e chá de remédio do mato e outros cuidados.”

“No dia que era para ganhar o menino ela dizia, mãe não precisa ficar nervosa, falava com uma calma e   paciência que fazia “agente” ficar melhor, tinha aquele maior carinho com “agente” não é como os médicos e enfermeiros que tem hoje que não tem carinho.”

O primeiro filho de Antônia Conceição deu de nascer de noite, por isso seu pai, o carpinteiro que “fazia” canoas, o senhor Raimundo Lê Lê, teve que procurar a parteira dona Maria de Lourdes durante a noite.

A casa da comadre ficava a duas horas da roça onde ela morava, onde está precisamente localizado o 13º batalhão de Teixeira de Freitas, descreve Antônia:

“Não tinha hora, era só chamar que ela vinha, meu pai foi buscá-la andando a pé por uma estradinha na mata com um “candieiro” na mão para iluminar a passagem. Como estava chovendo a Dona Lurdes se cobria com um lençol ou toalha de banho e vinha tremendo de frio, quando chegava acendia o fogo para aquecer e esquentar a água,  eu já estava esperando.”

Durante o parto ela fazia uso de conhecimentos populares e naturais, como pedir a mulher para soprar à garrafa, os materiais que sempre tinha em mãos era a tesourinha para cortar o cordão umbilical, que em alguns poucos casos era queimado com uma colher quente esquentada no fogão,  uma injeção e outros.

Após o nascimento, o acompanhamento continuava até o temido 7º dia, um dos grandes vilões deste período, com orientações e vigília constante. Relata Antônia, era a parteira que dava os primeiros banhos no bebê e cuidava do umbigo com azeite de mamona.“Só deixava de visitar quando o umbigo caia.”

Responde com emoção que sente muita saudade da “Mãe Lurdes” que nunca cobrava pelos serviços prestados, ela que procurava retribuir prestando algum favor simples, como ajudá-la  nos serviços domésticos em algumas ocasiões. Evidenciando o que Nikelen Acosta Witter (2001) chama de ligações estabelecidas entre as mulheres e as redes de solidariedade para enfrentar as dificuldades de seu tempo.  

 (CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM)

Fonte:

Entrevista realizada com Maria Antônia Conceição Pereira, em 17/10/13.

Referência Bibliográfica

WITTER, Nikelen Acosta. Dizem que foi feitiço: As práticas de cura no sul do Brasil 1845 a 1880.Rio Grande do Sul :EDPUCRS,2001.

Daniel Rocha

Historiador, Bacharel em Serviço Social, Pós-Graduado em Educação à Distância (EAD), Cinéfilo e blogueiro criador do blog Tirabanha em 2010.

Veja também:

Mulheres parteiras em Teixeira de Freitas parte 01

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