Por Daniel Rocha

Em 13 de maio de 1888, diante da resistência escrava e pressão do movimento abolicionista e internacional, a princesa Isabel assinou a Lei Áurea (Lei de Ouro) e pôs fim a vários séculos de escravidão no Brasil, motivando festas e manifestações pelas ruas de Caravelas e Nova Viçosa.

Em carta enviada e publicada no jornal Diário da Bahia no dia 3 de julho de 1888 os liberais narraram que no dia 13 de maio soube-se em Caravelas que a lei Áurea havia sido sancionada e para “festejar o feliz acontecimento” os liberais fizeram nas primeiras horas do dia seguinte “subir ao ar numerosos foguetes.”

Tomados por uma forte sessão de alegria e liberdade, os cativos libertos saíram  durante a noite pelas ruas de Caravelas acompanhados pela “Filarmônica Democrática” e uma grande multidão de ex-escravos pelas ruas da cidade a comemorar a sonhada abolição. Ainda tomados pela alegria, no dia 19 os libertos mandaram “cantar” duas missas a São Benedito. No evento um grupo ligado aos conservadores, insatisfeitos com tamanha comemoração, provocou os negros libertos e os apoiadores gerando agressões. Os conservadores negaram as acusações..

Na colônia Leopoldina, interior de Nova Viçosa e Caravelas, o atuante abolicionista padre Geraldo Sant’Ana, em companhia de Henrique Hertzch, suplente da delegacia local, conclamou os escravos a deixarem o trabalho. Reunidos na fazenda Conquista falou para mais de quinhentos que eles estavam libertos em nome de Jesus Cristo e que o governo não lembrava se deles, pois estavam num local distante.

Diante do anúncio alguns escravos passaram a cobrar mil réis para voltar ao trabalho enquanto outros abandonaram suas atividades passando a vagar pelas estradas insultando os inimigos do padre Geraldo e outros transeuntes contrários.

Em Nova Viçosa (Vila) em comunicação enviada ao chefe de polícia o delegado Ângelo Domingos Monteiro, relatou que padre tornou público a abolição no dia 15 de maio de 1888 causando grande confusão, pois alguns ex- escravos passaram a organizar grandes festas e a dirigir insultos às autoridades escravocratas.

Os ex- escravos que tinham a pessoa do padre como o responsável pela liberdade, tomaram a rua do lugar dando vivas ao religioso, aos republicanos e ao Partido Liberal. No dia 19 de maio reuniram – se na casa de uma prostituta e depois saíram pelas vias cantando, dançando, dando tiros de garruchas e espingardas, armados também de facas e cacetes, até o dia clarear.

No dia 20 repetiu-se a reunião na mesma casa e quando o delegado ordenou que acabasse com a reunião, os ex-escravos, comandados pelo presidente da câmara, reuniram-se novamente e passaram a gritar “… Vá o samba acima, hoje acaba-se com tudo, viva o padre Geraldo, viva os liberais, morram os conservadores, fora.”

Segundo Jaílton Lima Brito na dissertação “Abolição na Bahia – Uma história política – 1870 e 1888,” de onde as informações apresentadas foram extraídas, os enfrentamentos foram provocados por movimentos políticos-partidários defendido pelos abolicionistas republicanos que atuaram na região e que acabou por envolver os escravos que tomaram partido das ideias Liberais. “Uma atitude incomum entre os ex-escravos que tendiam ao apoio à monarquia”.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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Fontes:
BRITO. Jaílton Lima. Abolição na Bahia – Uma história política – 1870 e 1888. UFBA. 1996.

Veja também:

Nos tempos da escravidão I: Um quilombo em Caravelas

Nova Viçosa 1884: A fuga dos escravos

Foto:
Igreja de Santa Efigênia .
Bahia.ws 

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