Por Daniel Rocha.  

A culinária teixeirense é diversificada, embora hoje seja mais conhecida principalmente pela mistura da cozinha mineira e capixaba, ela tem  origem nos produtos regionais que eram fartamente produzidos ou encontrados na mata atlântica.

Para melhor compreender o período que vamos abordar é importante lembrar que a nova dinâmica social trazida pela devastação da floresta, o processo de urbanização e o incentivo governamental à agroindústria, alterou os hábitos alimentares do povoado de Teixeira de Freitas e  das comunidades  da zona rural.

No início de 2014, o jornal A tarde editou uma série de artigos sobre a culinária baiana, em um destes  o colunista Edinho Engel afirmou que os três grandes biomas do estado; o atlântico, chapada e a caatinga, dão a cozinha regional baiana uma dinâmica cultural diferenciada em razão da oferta de ingredientes variados.

A comida típica baiana como a brasileira é por natureza diversificada pois cada região se serve com o produto que tem por perto e em abundância, assim com a dimensão espacial da Bahia é evidente que há uma variedade infinita de pratos e receitas regionais.

No caso do extremo sul, que foi coberto pela mata atlântica até os anos de 1960 , a oferta de produtos nativo da mata influenciava os hábitos alimentares dos moradores do sertão do Itanhém e cidades litorâneas como Alcobaça, Prado e Caravelas que se serviam dos produtos produzidos e vendidos na cidades por agricultores locais.

Nesta perspectiva a quase extinção de animais e ervas e frutos que  eram facilmente encontrados no bioma atlântico é uma das causas pela qual diversos pratos da culinária de raiz, largamente consumido pelos moradores das comunidades rurais na década de 1950 e 1960, deixaram de marcar presença na mesa  dos teixeirenses, dentre os quais podemos citar a araruta.

 Em um universo de plantas nativas do bioma atlântico a araruta era a estrela que mais brilhava na mesa dos moradores das antigas comunidades rurais e das cidades das margens do rio Itanhém.

Para quem não conhece, a araruta é  uma erva cujo a raiz tem a fécula branca alimentícia, que  era facilmente encontrada na vegetação ou cultivada próxima às casas de posseiros e principalmente por mulheres gestantes da região nas décadas citadas. Um dos pratos feitos com a raiz desta planta é o mingau de araruta, muito utilizado pelas comunidades rurais na alimentação de recém nascidos e crianças maiores.

De acordo uma busca realizada pelo colaborador Domingos Cajueiro Correia, a raiz da “ araruta” era retirada , lavada ,ralada e deixada de molho em água limpa de um dia para o outro. Desta água era retirada a goma da qual se fazia o mingau, principal fonte de sustento das crianças menores de um ano.

Segundo diz Maria José da Silva, de 70 anos, também se retirava o polvilho de araruta para fazer biscoitos e bolos. “Era parte da nossa alimentação, nunca faltava, era o que mais tinha na mata… Não havia maisena para fazer o mingau das crianças, essa veio depois.”

Para o engenheiro agrônomo da EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola) , Jorge Silveira, em entrevista ao site do órgão. “A araruta é uma cultura milenar, genuinamente brasileira, que se encontra em vias de extinção.”

Apesar de estar ameaçada e ser difícil o acesso, no município ainda é possível encontrar moradores que cultivam o hábito e as receitas como a senhora Raquel Rodrigues, moradora do bairro São José, em Teixeira de Freitas, Ba, que prepara biscoitos e o mingau para servir a família.

A matéria-prima, raiz da araruta, ela consegue com o filho Ezequiel que cultiva para consumo próprio em um sítio que fica no distrito de Juerana, município de Caravelas. Segundo a nora da senhora Raquel, Rose Neves, no presente, ela observa que a raiz é pouco conhecida pelos moradores, “Uma riqueza desprezada.”

Essas, como outras, iguarias mostram que há uma riqueza gastronômica desconhecida pela população teixeirense e da microrregião do Extremo Sul da Bahia. Riqueza preservada na lembrança dos moradores antigos que não esquecem as sensações e  sabores que poucos tiveram o prazer de apreciar.Para Henrique Carneiro (2003), autor do livro Comida e Sociedade : uma história da alimentação;

“Além das questões políticas ou macroeconômicas, a alimentação revela a estrutura da vida cotidiana, do seu núcleo mais íntimo ao mais compartilhado”.

Assim, nossa história está preservada não só na oralidade ou em papéis escritos, mas também nos caderninhos de receitas da vovó.No próximo texto, a variedade de carne de caça. Os alimentos industriais impõem praticidade, padrões estéticos e higiênicos.

Fontes:

Jornal Grande Bahia. EBDA busca resgatar cultura da araruta em Cruz das Almas, 2013. Disponível em:     http://www.vidanocampoonline.com/index.php/agricultura-familiar/3328-ebda-busca-resgatar-cultura-da-araruta-em-cruz-das-alma . Acesso em: 21 abr. 2014.

Entrevista com:

Maria José da Silva. Março de 2014.

Domingos Cajueiro Correia. Março de 2014.

Foto: Google imagens.

Texto atualizado em 08/09/14

veja também:

Comidas típicas  parte 01.

História de Teixeira de Freitas, comidas típicas de Teixeira de Freitas Ba

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