Com as novas possibilidades oferecidas pelo advento da internet, temos a sensação de que o aprimoramento da comunicação humana tenha chegado ao limiar da perfeição, mas não é o que ocorre, levando-se em consideração os diversos contextos sociais, sendo a família o principal deles.

Não é raro constatarmos as dificuldades da comunicação moderna, mesmo dispondo de todos os recursos que temos hoje. Isto porque, no fundo, comunicar exige ouvir o próximo, conviver, fazer concessões, interagir com interesse naquilo que o outro se dispõe a dizer, e é aí que as dificuldades começam e se desenvolvem.

Na verdade, comunicação envolve convivência e paciência, que por sua vez, exige desenvolver aspectos ligados à psiquê humana, ética, gratidão e tolerância, em uma palavra, aspectos espirituais, entendendo-os aqui, como não diretamente ligados às questões de cunho religioso. Estes temas são hoje, amplamente desenvolvidos pela psicanálise, psicologia e psiquiatria, ciências mais próximas a este objeto de estudo, mas que vem interessando a um número cada vez maior de pessoas.

Por isso, não é raro, mesmo estando próximas, as pessoas se comunicarem por mensagens do celular, o que em tese seria absolutamente desnecessário, isto porque, é bem mais cômodo e fácil, porque evita o contato, o olho a olho, e nos poupa de aparar as nossas arestas, que são muitas. Nas empresas, os desencontros e falhas de comunicação são constantes, pois se comunicar verdadeiramente vai além do simples fato de receber ou enviar mensagens por meios digitais, exige atenção, senso de comunicação em grupo e solidariedade ao o que o outro deseja dizer.

Portanto, como vemos, a comunicação exige um certo progresso de convivência em grupo ou mesmo nas relações interpessoais, fato que as novas tecnologias nos iludem e nos fazem esquecer, gerando uma ilusão falsa de interação útil e verdadeira.

Afinal, é no contato com o próximo que aprendemos a conviver, e a sermos levados a corrigir nosssas possíveis falhas, num sinal de humildade e responsabilidade social, muitas vezes substituídos pelo modo mais cômodo e superficial, a comunicação via redes sociais ou qualquer outro meio digital.

A comunicação na era da internet atingiu níveis tècnicos surpreendentes, falta agora investirmos no nosso crescimento como seres humanos, vivendo em sociedade, e não somente no mundo virtual, o que exige fazer concessões, desenvolver o espírito conciliador, além de nos colocar em contato com as muitas pluralidades sociais e culturais do mundo globalizado – e isto não é pouca coisa, exige muito esforço, um esforço que muitos querem evitar, usando o meio digital ou simplesmente evitando uma real comunicação com o próximo.

ERIVAN SANTANA

Crônica originalmente publicada no jornal A Tarde, Salvador, 10/10/19

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