Por Daniel Rocha 

A morte de um ente querido, seja na roça ou na cidade, é um acontecimento triste que reuni pessoas. Se hoje visitar um velório rapidamente é uma prática comum, antes o acontecimento unia os vizinhos e moradores próximos em solidariedade à família em longos velórios carregados de observações, rezas e sincretismo. 

Se no passado o fato persuadia a atenção das pessoas da cidade, na zona rural esta tradição era ainda mais forte, mesmo porque nem sempre em condições de tomar a frente de tudo à viúva e entes queridos contavam, na maioria das vezes, com a ajuda dos mais “chegados”. 

Os tais “chegados”, por exemplo, é quem resolvia os detalhes do enterro e os cuidados que merecia o defunto. Afinal uma coisa é certa, o luto é a única coroa que, cedo ou tarde, passa pela cabeça de todos que caminham pela terra, dessa forma era preciso auxiliar para no futuro ser auxiliado. 

Dessa maneira o costume era compartilhado pelos moradores da zona rural aos da zona urbana. Isso porque até o início da década 1990 era quase comum as crianças passarem férias na roça ou em fazendas de parentes nos arredores de Teixeira de Freitas, cidade do extremo sul da Bahia. 

Na zona rural, além de brincar em rios e lagos das propriedades, a meninada ouvia dos moradores mais velhos causos do passado sobre os hábitos e costumes dos moradores das roças, muitas das vezes descrições e narrativas sobre aparições sobrenaturais temidas pelas crianças e adultos. 

Recorda, Lide Silva, 28 anos, que quando era criança costumava visitar os primos e tias na “Roça do Itaitinga” que fica na zona rural de  Alcobaça, município vizinho, onde ouvia dos tios mais velhos casos sobre a rotina e aparições assustadoras. 

Entre os diversos casos narrados que gosta de lembrar, um em especial tirou-lhe o sono na infância, pois, afirmou, houve quem confirmasse a veracidade do que era dito. O caso rememorado por ela é o causo do “Nó da mortalha”  que girava em torno do costume da confecção das vestes dos defuntos. 

Segundo o causo, uma moradora da dita roça, Ana Maria, ainda moça foi escolhida pela mãe para ajudar a vizinha que havia enviuvado. A ela coube a missão de preparar a mortalha do defunto. Obediente e prestativa Ana Maria não se furtou do dever atribuído, foi em companhia da irmã a cidade, Teixeira de Freitas,  e compraram um tecido adequado para confecção da veste e em seguida costurou a roupa deixando no jeito para o velório. 

Narra Lide, conforme foi contado, que o velório seguiu noite adentro e Ana Maria com a ajuda de outros vizinhos ainda se envolveu em outras obrigações destinada aos vizinhos, servir o café, receber os parentes, acalmar a viúva e puxar cânticos religiosos. Assim tudo transcorria bem conforme o roteiro, até alguém, um velho das proximidades, observar com espanto algo na veste fúnebre. 

– Passaram costura e deram um nó na mortalha, não pode fazer isso ele vai ficar prejudicado…. 

Sem disposição e tempo suficiente para providenciar outra veste e não dando crédito a crendice popular a observação do velho foi ignorada, o defunto foi enterrado no dia seguinte com a mal avaliada mortalha. 

Contudo, durante a noite seguinte ao enterro o ser do túmulo foi visitar Ana Maria que seguiu por semanas sendo perturbada pela alma do falecido que só parou de fazer “quizumbas” depois de muita reza forte. Aliás, naquela época havia reza para tudo. 

Daniel Rocha* e historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X de Teixeira de Freitas – BA

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com.

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Foto: Cena do filme Quincas Berro d’Água

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