Por Daniel Rocha

Os registros orais que alimentam o imaginário popular sobre o passado remoto de Teixeira de Freitas-BA apresentam a figura de Braço Forte como um personagem de significativa relevância histórica. Mas surge uma questão intrigante: ele realmente existiu ou é apenas fruto da imaginação de alguns moradores? O que há de verdade ou fantasia no contexto desse causo narrado?

Para investigar a veracidade dessa narrativa, foi realizada uma pesquisa documental limitada ao período de 1900 a 1930, com foco em alguns jornais da época disponíveis na internet. Apesar dos esforços, não foram encontradas referências diretas ao nome “Braço Forte” nesse intervalo inicial.

Entretanto, a busca foi ampliada para outras fontes, livros e revistas, revelando um personagem com características similares: Chico Braço Forte. A referência a este personagem foi encontrada na revista “Segredos de Água Fria: A Gênese da Criação da Cidade de Medeiros Neto”, um trabalho realizado por alunos de Pedagogia do PARFOR-UNEB em 2014. A revista cita relatos de moradores antigos sobre exploradores e pioneiros da região.

De acordo com os registros coletados na comunidade, em 1912 teve início um dos primeiros movimentos de povoamento no vale do rio Itanhém, próximo à divisa da região, área rica em madeira nobre e servida por rios navegáveis. 

Rio Itanhém – Teixeira de Freitas – BA

Nesse cenário, Chico Braço Forte e Hermenegildo Neves da Silva, são descritos como exploradores pioneiros, adentraram pelo a área do Córrego Água Fria em busca de recursos madeireiros, abrindo caminho para colonizadores que futuramente contribuíram para a formação do município. Esses relatos se alinham, de forma intrigante, aos causos do Braço Forte do rio Itanhém, também explorador de madeiras nobres.

A partir dessa descoberta, emergiu um novo questionamento: Chico Braço Forte seria o mesmo Braço Forte das narrativas orais sobre o rio Itanhém? Embora não existam documentos que comprovem essa conexão, elementos como o apelido, sua atuação como explorador e o período dos relatos sugerem uma possível relação, apontando para a possibilidade de ser a mesma figura mencionada nos causos dos moradores antigos de Teixeira de Freitas.

Isso significa dizer que, sendo o mesmo personagem, Braço Forte não teria sido apenas um canoeiro polêmico, mas também um pioneiro na exploração do vale do rio Itanhém, uma região anteriormente habitada por povos indígenas, como os Pataxó e Maxakali, com quem possivelmente o canoeiros interagia.

Outro aspecto pesquisado  foi  a possível relação entre Braço Forte e o relatado extermínio de comunidade indígena ribeirinha por meio da cachaça envenenada, conforme foi narrado na versão do causo conhecido por Jair Nascimento de Freitas.

No artigo “Os Índios Maxakali: A Propósito do Consumo de Bebidas de Alto Teor Alcoólico” (1993), onde João Luiz Pena fala os impactos da colonização nas regiões do Rio Doce, Mucuri e Itanhém,  sobre a cultura Maxakali, utilizando relatos de estudiosos  sobre práticas de violência que não se distancia dos acontecimentos relatados.

Conforme destacado, em 1958 foi identificado o uso de cachaça contaminada e a prática de alcoolização como formas de violência contra o povo Maxakali, na área próxima à divisa entre Minas Gerais e Bahia, vale do rio Itanhém. Esses fatos reforçam a plausibilidade dos eventos trágicos atribuídos ao canoeiro explorador da região que adotou a prática em troca de dinheiro.

Contudo, a identidade de Braço Forte permanece um mistério, Sem documentos formais, Braço Forte simboliza a complexidade do colonizador: herói das águas para alguns, vilão das matas para outros. 

Um personagem que nos desafia a olhar para a história com mais profundidade e menos nostalgia e  que provoca reflexões sobre os processos de ocupação do sul da Bahia e  do surgimentos de Teixeira de Freitas. 

Fontes consultadas: 

PENA, Luiz João. Os Índios Maxakali: A Propósito do Consumo de Bebidas de Alto Teor Alcoólico. In: SOUZA, Maria Laura P. (Org.). Processos de Alcoolização Indígena no Brasil: Perspectivas Plurais. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2013. Capítulo 8.

SEGREDOS de Água Fria: a gênese da criação da cidade de Medeiros Neto. Revista. Medeiros Neto: PARFOR – UNEB, 2014.

Daniel Rocha da Silva

Historiador graduado e pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

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