Por Daniel Rocha

Em meados da década de 1960, uma nova onda migratória fez o pequeno povoado de Teixeira de Freitas, Bahia, formado por famílias negras, já residentes das redondezas, em sua maioria católicas, crescer de forma contínua e assustadora.   

Esses migrantes vindos de todas as partes do país trouxeram sua cultura religiosa que depois de um tempo conquistou outros migrantes e moradores do local que também contribuíram para expansão da nova cultura religiosa que encontrou terreno fértil na futura cidade.   

Constata-se no levantamento realizado pela igreja católica no ano de 1979, seis anos antes da emancipação, por exemplo, que já havia no então povoado de Teixeira de Freitas treze igrejas do segmento evangélico e sete igrejas católicas. Tais números já evidenciaram a expansão significativa do protestantismo no povoado de população crescente. 

De acordo com a historiadora e professora do município, Valdênia Machado, em trabalho monográfico, “A presença dos Batistas no cotidiano urbano da cidade de Teixeira de Freitas no extremo sul da Bahia”, o movimento protestante no então povoado começou de forma tímida por iniciativas de novos moradores locais, tanto que um dos primeiros cultos foi realizado em casas de migrantes batistas recém chegados na década de 1960.   

Migrantes como a senhora Lelita Rodrigues de Almeida ,77 anos, conhecida pela alcunha “Bisa” que migrou de Ibirapuã para Teixeira de Freitas em 1963. Natural da cidade de Nova Canaã, BA, e filha de agricultores comuns, realizou os primeiros encontros evangélicos   do então povoado. 

Conforme registrou a professora Valdênia Machado, quando morou em Ibirapuã a pioneira Lelita Rodrigues era frequente na Igreja evangélica da cidade, por isso quando chegou para morar no então povoado de Teixeira de Freitas procurou de imediato uma representação batista local, contudo não demorou constatar que não existia.   

Reunindo interesses e forças, ela e a família organizaram então reuniões domiciliares para estudo bíblico e pregações, que logo se tornaram referência para os protestantes do povoado, independente da denominação. 

Um relato de um antigo morador evangélico da cidade, o migrante soteropolitano Júlio Bispo, registrado na revista “Nossa História Assembleia de Deus” de 2011, confirma e reforça a versão da organização realizada pela senhora Lelita. 

Conforme afirmou a revista o antigo morador, que lembra de ter frequentado os cultos batistas antes de realizar “o primeiro culto assembleiano” em sua residência, em 20 de janeiro de 1965, de fato esses encontros ecumênicos foram as primeiras sementes lançadas que germinaram e deram frutos. 

Com relação ao grupo ecumênico, relatou Lelita que algo que lembra Júlio Bispo, as reuniões eram de fato também frequentadas por outros migrantes, dais quais lembra: “três senhoras adventistas, duas da Assembleia de Deus.” Frequentadores que, supõem-se, em um momento propício fundaram os primeiros templos do povoado nos anos seguintes à primeira iniciativa batista.  

Dessa forma, pode se dizer com base nas informações levantadas, que a construção do primeiro templo da Assembleia de Deus, em 1965, atual Congregação Marquês de Barbacena, da Primeira Igreja Batista,1966, Adventistas,1970, são frutos do movimento que preparou o terreno para chegada da Presbiteriana,1977 e da Igreja Luterana em 1974, que foi fundada por migrantes capixabas, dentre outros. As atividades das igrejas instaladas consolidaram o movimento evangélico na cidade que tal como vinha ocorrendo em todo país, cresceu nesse espaço de tempo.

Convém destacar que o crescimento do movimento evangélica no povoado  também está ligado ao movimento organizado que trabalhava para expansão do protestantismo no Brasil,  nacional e internacional pela liberdade de culto e a política e discurso conservador do Regime Militar que ocupava o poder central, quando no então povoado começou a receber de forma mais expressiva migrantes vindos de todas as partes do território baiano e dos Estados vizinhos. 

No próximo texto: depois da fundação das primeiras igrejas para se diferenciar do pluralismo cultural existentes, os evangélicos teixeirenses criaram estratégias para conquistar novos adeptos, firmar tradições e costumes. 

 

Fontes: 

MACHADO DA SILVA. Valdênia. A presença dos batistas no cotidiano urbano da cidade de Teixeira de Freitas no extremo sul da Bahia. Uneb campus -X. Teixeira de Freitas, 2010.

ALVES PEREIRA.Jader.Introdução à história dos Batistas no Extremo Sul Baiano. Teixeira de Freitas BA. 2003.

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia, Belo Horizonte, 2011.

Nossa história Assembléia de Deus. Publicação: Jornal Boas Novas. ED I. Ano 2011.

NASHLA. Dahás.Evangelização à brasileira. Acessado em 01/11/15:.Disponível em:http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/evangelizacao-a-brasileira

Histórico  da igreja luterana em Teixeira de Freitas.  Disponível em http://luterana-txdefreitas.blogspot.com.br/

 Assembleia de Deus Bairro Bela Vista década 70. Foto extraida da Revista Nossa história
Assembléia de Deus
 
 

Daniel Rocha*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.  Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com 

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