Por Daniel Rocha

Para além do foco, algumas fotografias antigas da cidade guarda surpresas ocultas que trazem informações do tempo registrado que às vezes passam despercebidos por quem olha como o conjunto de escolhas, o lócus social definidos e a visão política e do tempo histórico de quem registrou.

Dessa forma, para o início dessa série que se propõe a analisar algumas fotografias, selecionamos um registro de uma parte do centro da cidade que tem como tempo natural o dia e como  tempo cronológico o mês de outubro de 1982 do século XX.

O autor foi identificado por fontes como sendo “Dr. Fortunato”, um fotógrafo amador, sem vínculo com instituição ou imprensa que prestou grande serviço a história ao fotografar o cotidiano e algumas paisagens da cidade.

Foto sem filtros

Nos termos técnicos a fotografia traz um grande plano geral preenchido em sua maior parte pelo ambiente e paisagem urbana de uma parte do ainda povoado de Teixeira de Freitas. Na parte inferior registra a entrada da rua Prudente de Morais, parte do entroncamento com a  rua Pedro Álvares Cabral.

Na foto é possível perceber uma parte do fundo da lateral do prédio do antigo Sindicato patronal dos produtores Rurais de Teixeira de Freitas, antigo hospital Santa Lucia onde atualmente funciona o Ambulatório Central.

Pichação no muro

Na parede do prédio do sindicato patronal uma pichação com os dizeres “P/ Prefeito Wilson Brito” se destaca. Em tese a pichação faz parte da prática política da época. A fotografia foi registrada um mês antes da realização do pleito de 1982 que teve como eleito o residente Wilson Brito. Período que segundo relatos e pesquisas este tipo de ação era comum.

A escolha da paisagem pelo fotógrafo não foi qualquer, a fotografia traz uma paisagem modificada pela ação contínua do movimento das classes trabalhadoras e dominantes sobre o meio natural, já não existente no então povoado de Teixeira de Freitas, dividido entre os municípios de Alcobaça e Caravelas. 

Casa e cor da década de 1980

Na paisagem ainda é possível observar uma maior ocupação de espaços por casas, havendo poucos terrenos baldios, o que indica que do ponto de vista imobiliário aquela região já era mais valorizada, logo habitada por pessoas de melhor condições financeiras, fato evidente na arquitetura e formato das casas.

O lado fotografado pertencia ao município de Alcobaça que dispensava uma atenção maior ao povoado, ou seja, o registro traz uma visão da parte onde se localizava as melhores habitações e às desmazelas urbanas não eram tão gritantes, haja visto que o povoado ainda não havia recebido investimentos suficientes em obras de infraestrutura básica, apesar  fluxo de carros e pessoas vistos nas ruas.

O horizonte como destino

No enquadramento geral, se vê, através dos exemplos, um olhar influenciado pela visão desenvolvimentista que norteava a política nacional e local da época, expressa no espaçoso horizonte a ser alcançado pelo “próspero povoado” captado como a imagem e realidade a ser lembrada no futuro… Uma informação explícita e ao mesmo tempo oculta na foto vista por muitos como “um registro de como era Teixeira  de Freitas no passado”.

Fonte:

MAUAD. Ana Maria. Através da imagem: Fotografia e história interfaces. Tempo, Rio de Janeiro, vol.01,.02. p 73 – 98.

 GUERRA, Jailson C. Pereira; SILVA. Leonardo Santos. O processo de emancipação política de Teixeira de Freitas (1972-1985). UNEB 2010.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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