Por Daniel Rocha

Em 1939 Adolf Hitler invadiu a Polônia e desencadeou a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). O conflito que começou na Europa se expandiu para todo o mundo depois do ataque japonês à ilha de Pearl Harbor,  que levou a entrada definitiva dos Estados Unidos, e seus aliados, no grande conflito que envolveu todas as grandes nações do mundo.  

A declaração formal de guerra do Brasil ao Eixo Nazifascista aconteceu em 21 de agosto de 1942, após pressão internas e externas e o torpedeamento de navios mercantes brasileiros por submarinos alemães.  No ano seguinte, 1943, milhares de jovens de todas as partes do país foram convocados para integrar a FAB – Força Expedicionária Brasileira, enviada à Europa para lutar ao lado dos Aliados e contra o Eixo.  

Dentre os diversos reservistas convocados na região do Extremo Sul da Bahia, dois eram moradores da fazenda Cascata que integraram de imediata as tropas enviadas para defender a posição do país na guerra, José Bernardo, filho do dono da fazenda, e Grinaldo Muniz, trabalhador da venda da propriedade que atendia as imediações.  

Venda da Fazenda Cascata

Em 1944, Grinalda, “o caixeiro“, partiu com diversos soldados rumo à Europa, Itália, para combater as forças nazistas. No velho continente, em inúmeras batalhas, os soldados brasileiros foram relevantes como na tomada do Monte Castelo, onde depois de 12 horas intensas de combate, a FAB derrotou os soldados do Eixo.   

Conforme a memória de Jair de Freitas, que conheceu e ouviu comentários na época sobre o bravo Pracinha “Grinaldo Muniz”, o ex- caixeiro expedicionário, na Itália transformou-se num guerreiro e lá lutou e foi ferido com um tiro no abdome durante a guerra e “voltou com as tripas costuradas” e com méritos de ter sido um bom combatente.  

Já o destino do Pracinha José Bernardo, filho do proprietário da Fazenda, Quincas Neto, seguiu por outro caminho, ele ficou aquartelado no distrito de Olivença/Ilhéus, BA, aguardando o seu envio e do seu regimento até o final do confronto. Contudo, essa situação pode ter sido provocada por cartas enviadas pelo seu pai, Quincas Neto, ao presidente Vargas pedindo a sua dispensa das linhas de frente das batalhas, por ser ele o seu alicerce. Em uma das cartas argumentou: 

“Exmo. sr. O Dr. Getúlio Vargas. Em carta que vos dirigir em 19 de março último, vos afirmo entre outras coisas o seguinte; que tenho apenas meu único filho válido, José Bernardo de Almeida, de 21 anos de idade, cujos estudos foram interrompidos depois de ter concluído com vantagem o curso ginasial, pela necessidade dos seus serviços na administração da nossa fazenda, devido ao meu defeito físico, proveniente de uma operação que fiz em Baía, no pé esquerdo, em consequência de um acidente, da qual fui vítima nos trabalhos da minha profissão (…).  

(…) Na minha referida carta, vos disse mais que o meu único filho válido, José Bernardo de Almeida, fora convocado como reservista que é, para o serviço ativo do nosso glorioso exército, sendo incorporado às forças aquarteladas em Ilhéus (…) A nossa fazenda produz quantidade regular de cacau, mandioca, café e cereais, tendo um rebanho considerável de bovinos e alguns suínos. (…) Tudo isto vai sofrer um relativo decréscimo, em virtude do meu estado e ausência do meu filho, me darei por muito satisfeito se V. Ex.ª julgar-me os serviços dele não mais necessários nas fileiras do nosso glorioso exército”.  

A carta, em exposição no museu da fazenda Cascata, nunca obteve resposta, ao que não se sabe dizer se José Bernardo ficou aquartelado por esse motivo ou outros. De acordo com José Sérgio, proprietário da fazenda Cascata, em uma entrevista ao site em 2013, o Pracinha que auxiliou o exército em atividades externas e comunitárias   já estava embarcado no navio que sairia em direção à Itália quando a guerra acabou e não foi mais necessária sua ida.  

De acordo com o site da fazenda, de volta à fazenda, os pracinhas foram recebidos com muitas festas e brindes a liberdade e a vitória dos aliados. Ainda de acordo com José Sérgio, na década de 1960, um loteamento aberto no povoado de Teixeira de Freitas, BA, foi nomeado de Monte Castelo, hoje bairro, em homenagem aos expedicionários da FAB que lutaram ao lado de países democráticos. 

No entanto, convém lembrar que na época Getúlio Vargas era um ditador de um regime de características fascista e que sua entrada na guerra ao lado de países democráticos acabou criando uma contradição política entre a realidade vivida no país e os ideais pelos quais ele lutava, abrindo espaços para a contestação do Estado Novo, que, no Extremo Sul da Bahia, se caracterizou, também, pela predominância de costumes e valores plutocráticos.  

Fontes:

A fazenda. Texto pesquisado no extinto site: www.fazendacascata.com.br. Acessado em  12/04/13.

Entrevista com José Sérgio. Maio de 2013. Arquivo site tirabanha.

Acervo Site Tirabanha.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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