Por Daniel Rocha 

As ruas e as avenidas da cidade também contam histórias para quem deseja descobrir, como a nossa Avenida Presidente Getúlio Vargas que ocupa lugar na paisagem urbana e na memória dos moradores.  Mas como ela surgiu? O que o seu nome representa? Porque ela é estratégica para a cidade? Porque ela pode ser considerada um monumento social e político? Quais fatos sobre avenida não gostamos de lembrar? Quem passou ou passou por ela? 

Importa dizer que boa parte da avenida presidente Getúlio Vargas, do trevo até parte do centro, na verdade é uma rodovia estadual, BA 290, que foi aberta em meados da década de 1960, a partir da chegada do DERBA, Departamento de Estradas e Rodagens da Bahia, para ligar definitivamente o município de Alcobaça a partes do seu interior, povoado de Teixeira de Freitas e cidade de Medeiros Neto.  

Segundo relato publicado no site da Fazenda Cascata em 2016, Quincas Neto, o proprietário da fazenda, que já tinha ligado suas terras a Caravelas, através de uma estrada aberta por trabalhadores, no início da década de 1950, pediu permissão ao proprietário da madeireira ELECUNHA S/A, o senhor Eleuzibio Cunha, para interligar também a sua estrada que chegava até o trevo da cidade a estrada de rodagem da empresa, hoje avenida Princesa Isabel, no centro. 

Com a concordância e máquinas do madeireiro, a estrada da Cascata ao centro foi aberta até o encontro com a de Eleuzibio Cunha, no trevo do, hoje, Prédio da Casa Barbosa formando dessa forma um V, ao qual os moradores denominaram popularmente de Perna Aberta, que se tornou uma das alcunhas que cidade teve no passado.  

Trevo da Casa Barbosa: 2007

Mas a abertura dessa estrada foi apenas um embrião da avenida, esclarece o memorialista e colaborador do site Domingos Cajueiro Correia, porque ela não seguia o trajeto que tem hoje e sim um outro que os moradores da região leste da cidade costumavam seguir para chegar ao núcleo comercial que também foi chamado de “Mandiocal”, “Comercinho dos Pretos” e “Tira-banha”. Conforme relatou: 

“Na década de 60 era uma trilha praticamente... Passava no fundo da casa de tio Walfrido e seguia direto pro clube e depois até o Boi na Brasa, onde hoje fica o Supermercado Casa Grande. Como era maravilhoso transitar no lombo do animal ou de bicicleta naquela trilha encurralada pelas roças de mandioca, ver as lagartas da roça cruzando o caminho entre onde hoje ficam a loja da Volks e a Igreja São José, aquele toco de madeira queimado que existia na paisagem como uma referência para quem passava.” 

Com a abertura da estrada oficial pelo DERBA, nasceu assim duas importantes avenidas da cidade: a Presidente Getúlio Vargas, que também  se conectou com a rua em direção ao Mercado Caravelas,  e a Marechal Castelo Branco.  A primeira, batizada como o nome do ex-presidente Vargas, e a segunda com o nome do então Ditador do Regime Militar. Na época, a avenida não contava com pavimentação e ofertava dificuldades e era continuamente transitada por moradores montados em animais como cavalos e burros.  

Devido a essa dificuldade e constante presença dos animais transitando pelas as avenidas, elas foram apelidadas de “a Getúlio Vargas e a Castelo Branco dos burros”, conta uma anedota popular.  

Ainda de acordo com o memorialista, o asfalto só chegou na década de 1970 quando foi aberto e pavimentada a BR-101 que passou pela cidade graças a permissão de moradores, como seu pai Isael de Freitas Correia, que permitiu que a mesma passasse pelas suas terras. “O asfalto foi feito da Casa Barbosa até a Cascata a pedido de um senhor conhecido como Seu Nelito.”  

Sobre o asfaltamento da Avenida os historiadores Jailson Carlos Pereira Guerra e Leonardo Santos Silva, no trabalho monográfico “O processo de emancipação Política de Teixeira de Freitas (1972 – 1985)” registrou que: 

 “A inauguração da BR 101 na região, em 1972, que contou com a presença do ministro dos Transportes, Mário Andreazza nas proximidades de Teixeira de Freitas, proporcionou um ganho para a localidade. Amaral, antigo morador e prestador de serviços na área de documentos cartoriais, informou que o Sr Manoel Cardoso Neto, líder político do município de Alcobaça, pediu ao referido ministro a construção de quatro Km de asfalto para a via que liga a BR 101 ao centro do povoado, hoje Avenida Getúlio Vargas…. 

AV. Getúlio Vargas 1970, próximo a
onde hoje se localiza a loja CDC

…. Após ouvir do ministro uma resposta negativa, no primeiro momento, o interpelou dizendo: – Você sabe quanto custa um km de asfalto? Nelito, como era conhecido, insistiu dizendo que o local onde passava a BR na cidade – O trevo – o pertencia, e falou, se ele podia ajudar a nação, porque a nação não podia beneficiar uma comunidade?”. O fato é que Mário Andreazza acabou autorizando o asfaltamento. A partir daí, literalmente, os caminhos estavam abertos para o crescimento econômico e populacional”. 

Continua nos próximos textos da série. 

Fontes:

GUERRA, Jaison C. Pereira; SILVA. Leonardo Santos. O processo de emancipação política de Teixeira de Freitas (1972-1985). UNEB 2010.

Conversa informal com Domingos Cajueiro de Freitas em 29/03/22.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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