Por Daniel Rocha

Nas décadas de 1970 e 1980, o então povoado de Teixeira de Freitas, Bahia, formava um grande aglomerado urbano sem ruas e avenidas pavimentadas. Mas esse não era o único problema, após a emancipação o controle do trânsito também se fez necessário. Qual foi a primeira providência tomada? Por que a circulação de carros se tornou problemática?

Quando o desmatamento era sinônimo de desenvolvimento, as serrarias chegaram ao povoado de Teixeira de Freitas,BA, atraindo migrantes de várias partes da região e dos estados vizinhos. 

Esse processo, que se inicia nas décadas de 1950 e 1960, se deu de forma mais intensa durante  a  Ditadura Militar na década de 1970, quando foi pavimentada a BR- 101 e aberta a avenida. A  rodovia serviu de  mote para propaganda oficial que associou a obra a um grande desenvolvimento econômico local.

Não é mentira que nessa época a cidade se desenvolveu e de alguma forma foi transformada com a abertura e asfaltamento da avenida e que a mesma proporcionou  uma expansão da agricultura e pecuária, mas é verdade também que todo esse desenvolvimento foi restrito a alguns grupos e não a todos. 

Isso porque o desenvolvimento social não foi priorizado  nem pensados para todos, causando a expulsão dos trabalhadores do campo, vítima da grilhagem e da pressão dos grandes latifundiários,  o estufamento do povoado teixeirense que cresceu sem estruturação adequada.

Em maio de 1977, por exemplo, observou um jornalista, Carlos, Monforte, ao adentrar a cidade pela avenida Presidente Getúlio Vargas, a dimensão do baixo desenvolvimento social  e humano teixeirense:

“Pode-se tomar o povoado de Teixeira de Freitas, 40 mil habitantes, oito vezes maior que sua sede, Alcobaça, 5 mil habitantes. Ele estufou em menos de 5 anos, mas sua instalação foi tão desordenada como a de qualquer outro aglomerado da estrada. Não tem rede de esgotos, de água, nem telefone, nem asfalto. Sua espinha dorsal  é uma longa estrada que sai da BR 101 e dá num beco sem saída, na zona do meretrício”.

Apesar dessa realidade social gritante, o povoado e a região foi anuviada pela propaganda oficial da época como à terra prometida e nova fronteira agrícola e turística, em jornais e revistas de todo o país. Propaganda que pode ter atraído abundantes números de moradores em busca de empregos e investimentos. O Censo demográfico realizado pela igreja Católica, por exemplo,   mostra que em 1969 o então povoado contava com  4.700 habitantes e 1979, com 33.031.

Foto: obras na rotatória 1986

Esses dados e relatos levam a crê que a avenida e o então povoado,  por  ter sido aberta em um momento em que cresceu o número de moradores,  teve sua função utilitária pensada para privilegiar a circulação de automóveis e não de ciclistas e pedestres. Que todas as intervenções no seu espaço não foram planejadas quando possível pelos correligionários dos governos.

Importa dizer que mesmo antes,  no início da  década de 1960, antes do golpe militar, essa visão desenvolvimentista, que data da era Vargas já norteava o crescimento desordenado do povoado que surgiu no bojo do  desenvolvimentismo varguista, mantido nos períodos seguinte, como exposto, de forma mais selvagem.

Segundo lembrou Frei Elias Hooji,  na década de 1960 o projeto do loteamento “Monte Castelo”, um espaço planejado com largas avenidas e espaços para “colégios, igrejas e conventos” e prédios públicos, para onde o centro do então povoado deveria ser transferido,  foi recusado por  Lomanto Junior, então governador da Bahia (1963-1967). 

Na década de 1980, durante o processo de esgotamento do governo militar, a população local manteve essa perspectiva de que o puro asfalto era sinônimo de desenvolvimento, ensejo inflamado pelo discurso dos políticos locais em atividade pela emancipação e pleito para escolha do primeiro prefeito.

Promessas que não se concretizaram nos primeiros anos após a emancipação, pois, segundo Carlos Mensitieri,  no livro “A recente história de Teixeira de Freitas: um depoimento”,  na primeira gestão municipal, Temóteo Brito (1986 – 1988) algumas intervenções urbanas foram realizadas e planejada por engenheiros locais, oriundos de outras partes, como ele, que optaram por trabalhar na definição do espaço urbano e reajustar a via de  trânsito da avenida, já bem problemática na época.

Dentre essas medidas, lembra o autor, a construção da rotatória no cruzamento da via com as avenidas  São Paulo e Lomanto Junior, centro,  hoje conhecido popularmente como  “Rotatória da Pão Gostoso”, que na época  já era lugar de grande movimentação de carros e pedestres. 

Intervenção que serviu a cidade até 2019, quando uma nova mudança  na rotatória foi executada para atender as necessidades dos novos tempos, frisa o autor.  Cidade ainda marcada por um fluxo crescente de uma cidade que teve, nos seus primórdios, vias pensadas para privilegiar  a passagem dos carros.

Na primeira metade da década de 1990,   durante as administrações  de  Francistônio A. Pinto (1989 – 1992) e Temóteo Brito (1993 – 1996) a cidade e sua principal avenida começou receber atenção maior.  Processo finalizado no ano 2000 durante o último governo do prefeito Wagner Mendonça (2001 – 2004). Quais foram os beneficiados e os prejudicados nesse processo? Contínua no próximo texto.

Fontes: 

MENSITIERI, Carlos. A recente História de Teixeira de Freitas: Um depoimento! Perse. São Paulo, 2019.

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia – História da presença franciscana nessa região -raízes e frutos Belo Horizonte, 2011.

DANIEL. Rocha da Silva. O desenvolvimento socioeconômico do extremo sul da Bahia nos jornais de 1950 – 1960. UNEB-X. 2020.

Foto: Internet. Autoria atribuída a DR. Fortunato.

Daniel Rocha

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.  Contato WhatsApp: (73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com.O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. Facebook

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