Por Daniel Rocha

Na década de 1970, Teixeira de Freitas,Bahia, cresceu em população e desenvolvimento econômico, incluindo agricultura e agronegócio, exploração madeireira, expansão urbana e serviços básicos. Houve também a abertura da rodovia BR-101 e a realização da primeira Exposição Agropecuária, a maior do extremo sul da Bahia.

No entanto, o período também foi marcado pela Ditadura Militar no país e a forte repressão policial. De acordo com um “causo” contado por antigos moradores, a morte do capoeirista João Modesto caracteriza também esse período marcado por ufanismo, violência e mortes silenciadas no então povoado de Teixeira de Freitas.

Segundo o causo ouvido e contado pelo mestre capoeirista Pinote, no final da década de 1970 a capoeira já não era discriminada como antes no Brasil, mas no então povoado de Teixeira de Freitas quem praticava era frequentemente recriminado e perseguido pelos “soldados” que costumavam agir com violência e truculência naquela época.

No entanto o história que narra em forma de causo, a morte de João Modesto, um jovem trabalhador negro na casa dos vinte anos, morador do bairro São Lourenço e exímio capoeirista, não ocorreu em decorrência disso. Ele foi vítima do preconceito social ao tentar entrar em um ônibus de transporte coletivo.

De acordo com o causo, no final dos anos setenta, 1979, era realizada com grande sucesso e tensão a 4º edição da Exposição Agropecuária de Teixeira de Freitas. Naquela época, o local do parque era considerado um “cantão” longe do centro e de tudo, e a maioria das pessoas comuns ,que não tinham carro, ficavam na dependência de um ônibus coletivo para se deslocar até o lugar.

Ônibus “Faixa Preta”. Década de 1980. Foto: Museu Virtual

Na noite em que ocorreu o crime, João Modesto estava aguardando no ponto da praça dos leões com alguns jovens para juntos poderem curtir a festa agropecuária. Segundo o relato, todos estavam agitados e sorrindo muito na praça, e havia uma guarnição de guardas observando tudo e todos.

Quando chegou o Ônibus coletivo, o “Faixa”, os guardas se aproximaram para organizar a fila, pois estava visível que havia mais passageiros do que a capacidade do ônibus permitia. Enfileirados, os jovens entraram pouco a pouco, mas na vez de Modesto, ele foi barrado pelo policial, que disse que ele não teria direito de entrar naquele momento, o regime militar estava se esgotando e o clima era de contestação. De acordo com a perspectiva do causo o impedimento ocorreu  porque ele era negro e pobre e usava calça de capoeirista.

Ainda conforme o relato, percebendo o motivo,  João Modesto forçou a entrada e adentrou  no ônibus. Os policiais armados entraram para tirá-lo de lá à força, e Modesto reagiu com sua habilidade de bom capoeira, derrotando os dois policiais dentro do coletivo lotado com golpes mirabolantes.

Assustado,  João Modesto desceu correndo e tentou escapar em uma direção desconhecida, mas um terceiro policial sem uniforme,”pistoleiro da polícia”, que estava dando cobertura aos seus colegas do lado de fora do ônibus, atirou em Modesto pelas costas, causando o seu desaparecimento imediato. 

A morte de João Modesto gerou comoção entre seus amigos e moradores da sua comunidade que conduziram juntos o seu caixão depois do velório, amigos que contaram essa história em forma de causo para que ela jamais fosse esquecida.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado  e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

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