A fotografia foco dessa análise data do ano de 1975e foi registrada em um contexto que a cidade e a região do extremo sul da Bahia, passavam por transformações proporcionadas pela abertura de novas estradas,  início da eletrificação,  abertura de novos hospitais e escolas.

Com elementos característicos das fotografias da época, que buscava mostrar os avanços urbanísticos e o crescimento do então povoado, a fotografia revela jovens estudantes do Centro Educacional Professor Rômulo Galvão – CEPROG, no bairro Monte Castelo, reunidos para empinar pipas próximo ao antigo portão de acesso à escola no espaço onde hoje fica o fórum da cidade ao lado da Avenida Getúlio Vargas.

Segundo relatos, a atividade registrada fazia parte das aulas de educação física e era promovida pelo professor Walter Bispo que também realizava aos sábados corridas por algumas ruas do centro do povoado, informação que sugere que o professor fazia uso de métodos de ensino mais abertos e não tão rígidos como os que caracterizavam o ensino da época.  

A escolha do plano geral, que captou a interação com o ambiente, indica um povoado sem urbanização e cercado pelos novos postes de energia elétrica, recém instalados, próximo à avenida Presidente Getúlio Vargas, aberta e pavimentada a pouco tempo, que ligou o centro do povoado a BR-101, símbolo maior do discurso desenvolvimentista que pode ter motivado a escolha do plano e dos elementos mostrados.

Disto isto, supõe-se, que o fotógrafo buscou enquadrar os estudantes na paisagem que se transformava como um todo com a chegada do progresso, divulgados em jornais locais e nacionais, registrando as novas formas de educar e socializar para além dos muros da escola. Estudantes uniformizados, padrão que no presente dificulta identificar pluralidades e a presença de meninas no grupo, algo que sugere também normas sexistas.   

Vendedores de picolés

No registro há elemento não intencional, a captação acidental e espontânea do cotidiano comum. Por isso é possível observar, mesmo que desfocado, adolescentes e crianças trabalhadoras paradas com seus “Carrinhos de picolés” e a existência de múltiplas distinções sociais.

Sobre o período, observa a historiadora Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes, no artigo Dimensões de sociabilidade no Extremo Sul da Bahia (1960/1980): Violência em progresso, que analisa notícias de jornais sobre mudanças estruturais e o impacto da política desenvolvimentista para população das zonas urbanas e rurais que: “os ditos sinais de progresso não constituíram espaços de acolhida para a população subalternizada que habitava a região.”

Por fim, buscou-se através dessa análise simples da fotografia apresentada, apontar os elementos que caracterizaram o período da década de 1970 no então povoado de Teixeira de Freitas, com o objetivo de contribuir para a discussão de questões e inquietações relacionadas à formação e crescimento da zona urbana da cidade neste período.

Fontes e referencias

BURKE, Peter. Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica; traduzido por Vera Maria Xavier dos Santos; São Paulo: Editora Unesp, 2017.

GOMES, Liliane Maria Fernandes Cordeiro. Dimensões de sociabilidade no Extremo Sul da Bahia (1960/1980): Violência em progresso.

Foto: Acervo .

Conversa informa com Antonino Santos Silva.

A leitura do registro foi feita a partir das informações disponíveis e relatadas pelo o antigos estudante.

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