Por Daniel Rocha
Antes da emancipação de Teixeira de Freitas na década de 1980, muito antes da construção das primeiras estradas de rodagem que impulsionaram o surgimento e crescimento do então povoado teixeirense, o rio Itanhém desempenhou um papel central na mobilidade e na economia local. Os canoeiros, figuras frequentemente esquecidas, foram os verdadeiros protagonistas do cotidiano da região.
Esse protagonismo remonta a um passado distante, anterior até mesmo à chegada dos colonizadores portugueses. No século XIX, por exemplo, o príncipe e explorador alemão Maximiliano de Wied-Neuwied, ao navegar pelo rio Itanhém, registrou a presença de povos nativos e negros escravizados, que trabalhavam e se locomoviam com o auxílio dos canoeiros. Esses homens, cujos nomes foram apagados por décadas, eram a força motriz que movia a economia local, destacada em boletins econômicos da época.

Gravura de Maximiliano de Wied-Neuwied
Eles transportavam mercadorias e pessoas entre as vilas coloniais de Alcobaça e Caravelas e o interior, onde se localizavam importantes fazendas ribeirinhas, como as fazendas Cascata, Nova América, Arará e São Gonçalo. Nestas propriedades, portos e pontos de apoio serviam como paradas de transporte e comércio.
Um trecho de um texto publicado no site institucional da Fazenda Cascata em 2015 revela que na década de 1940, em seu movimentado porto, mais de quinze canoas estavam em atividade, agilizando o transporte de pessoas e do cacau, o principal produto da região.
Entre as embarcações mais populares e conhecidas estavam as canoas “Salamantra”, “Princesa”, “Roseira” e “Teimosa”, que mediam cerca de 14,40 metros e tinham capacidade para 100 sacas de cacau e mais de 20 passageiros.

De acordo com informações colhidas junto ao proprietário da Fazenda Cascata, José Sérgio, em 2015, foi nos braços dos canoeiros como Rodrigues Gambá, João Bobó, Benedito Cirilo, João do Duca, Ciriaco e Manoel Bitu, entre outros cujos nomes foram esquecidos, que conexões humanas e culturais foram criadas no vale do rio cercada de homens e mulheres que marcaram época.
Em meio a esse universo predominantemente masculino, destaca-se a figura de Dona Celina Correia da Silva, uma das poucas mulheres canoeiras da região de que se tem registro.
Conforme mencionado em um artigo do jornal Alerta, Dona Celina desafiou as normas sociais vigentes, ocupando um espaço em uma atividade tradicionalmente masculina e deixando sua marca na memória local da fazenda onde viveu, a Nova América.
Entre os muitos canoeiros que atuaram na região, um nome se destacou por sua história singular, marcada por eventos trágicos e que, através da oralidade, consolidou-se como uma lenda do rio Itanhém: Braço Forte. Sua narrativa, envolta em mistérios e acontecimentos memoráveis, será abordada no próximo capítulo desta série.
Fontes Consultadas
Teixeira de Freitas pelo rio: história da canoagem no município. Jornal Alerta. Edição Especial: 38 anos de Teixeira de Freitas. 2023.
SAID, Fabio M. História de Alcobaça: Bahia (1772-1958). São Paulo, 2010.
A Fazenda Cascata. Disponível em: www.fazendacascata.com. Acesso em: maio de 2014.
Daniel Rocha da Silva
Historiador graduado e pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
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