( Continuação do texto anterior) Segundo um causo lembrado por dois moradores antigos de Teixeira de Freitas, BA, o canoeiro Braço Forte ficou conhecido por ter vencido as correntezas e cachoeiras do Rio Itanhém em busca de óleos naturais extraídos de árvores, possivelmente nas décadas de 1920 e 1930.
Além disso, ele construiu fortes laços com os moradores das fazendas situadas ao longo do rio Itanhém, desde as áreas interiores de Alcobaça até a divisa com Minas Gerais. Dessa forma, sua atuação não se limitava ao transporte de mercadorias, mas abrangia também a interação com comunidades ribeirinhas e povos originários que viviam na região.
De acordo com a versão do causo conhecida por Jair Nascimento de Freitas , um trágico episódio envolveu Braço Forte e uma comunidade indígena que convivia em harmonia com fazendas próximas e tinha grande confiança nele.
Segundo ouviu dizer, um fazendeiro próximo e amigo dessa comunidade nativa, cometeu um ato de violência contra uma jovem mulher indígena, usando a força para estuprá-la, o que desencadeou uma série de eventos que culminaram em uma vingança cruel executada pelo canoeiro.

O líder da comunidade, localizado próximo ao que hoje é a área da Painha em Teixeira de Freitas, às margens do rio, ao saber do crime cometido pelo fazendeiro, retaliou da mesma forma, abusando da esposa do mesmo com igual intensidade e violência, o que levou o fazendeiro a planejar o extermínio de toda a comunidade através do uso de cachaça envenenada.
Sem conseguir executar o plano sozinho, o fazendeiro pediu ajuda a Braço Forte, que gozava de grande confiança entre os indígenas. Ele ofereceu dinheiro ao canoeiro para que transportasse a cachaça envenenada até a tribo. Apesar de saber das intenções do fazendeiro, Braço Forte aceitou a tarefa e, horas depois de consumirem a bebida, os indígenas foram envenenados. Somente um menino da comunidade sobreviveu para contar o ocorrido.
Quando a verdade veio à tona, Braço Forte foi preso pelo delegado da cidade de Caravelas e transferido para uma prisão em Salvador, onde enfrentou condições extremas, lutando para sobreviver ao vai e vem das marés que atingiam sua sela que ficava em uma ilha às margens do mar.
O massacre da comunidade indígena, conforme preservado na tradição oral, exemplifica um triste padrão histórico da colonização na região: a violência sistemática contra os povos originários. O uso do envenenamento como método de extermínio não só revela a crueldade dos colonizadores e latifundiários da época, mas também a fragilidade dos laços de confiança que, em situações extremas, eram traídos de forma brutal e irreversível.
Tais episódios retratam a luta desigual entre opressão e resistência enfrentada por essas comunidades, cujo legado permanece vivo tanto na memória coletiva quanto na contínua luta dos povos indígenas por direitos, reparação histórica e o reconhecimento de sua existência e cultura no país e na Bahia contemporânea.
Diante dessa narrativa, a figura de Braço Forte se transforma em um enigma histórico: seria ele um personagem real ou uma construção lendária forjada pela tradição oral da região? Há registros documentais capazes de comprovar sua existência e os episódios que marcaram sua trajetória? Na próxima etapa desta série, analisaremos fontes históricas e arquivos que podem esclarecer a verdade por trás desse emblemático personagem, separando os fatos da memória coletiva que o envolve em mistério e simbolismo.
Daniel Rocha da Silva
Historiador graduado e pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
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Daniel, recolher a história é como lançar uma rede de pesca: sempre precisamos relancá-la, para (como os peixes) recolher os exemplares que o tempo construiu. Viva nossa história! Parabéns!