Daniel Rocha

É impossível determinar exatamente o marco zero da cidade de Teixeira de Freitas, onde de fato tudo começou, isso porque mesmo tendo a população rural se fixado primeiramente às margens do rio Itanhém em meados do século 18, foi nos arredores da Praça dos Leões que a cidade desabrochou através da movimentação dos moradores das localidades próximas.

Sabemos  através destes antigos moradores que anterior à década da urbanização do espaço, em 1950, no local da praça já existia movimentação de pessoas  pelo lugar.

Por exemplo, recorda Isidrio Alves, nascido e criado em comunidades rurais próximas, que em 1934 presenciou a passagem de descendentes de negros escravizados vindos de um lugar por nome Japira ,que ficava às margens do rio Itanhém, pelo lugar.

Lembra que os negros vinham passar semanas na mata caçando animais e por esse motivo ficavam alojados onde hoje é o centro da cidade, no exato local da praça, em um rancho de palha construído por eles. “De short e um facão na cintura, falando embolado”.

Já outro antigo morador Isael de Freitas Correia, em memória, em entrevista, diz que em 1923 ele conheceu uma pequena aglomeração de moradores onde hoje se encontra a praça dos leões.

Na mesma entrevista o antigo morador da Fazenda Nova América, hoje parte da cidade, relatou que lá um grupo de caboclos vivia em meio a mata se alimentando da pesca e caça. Os fatos citados por ele  indicam que se refere ao mesmo grupo de negros citado por Isidro, o que reforça a hipótese de que o local servia de ponto de apoio para os moradores da Japira.

Já para pioneiro Arnaldo Santos o local da praça  destacado e de fato o marco zero da cidade. Arnaldo  foi proprietário da fazenda “Água limpa” que ficava onde hoje está o bairro Wilson Brito e parte do centro da cidade entre as décadas de 1940 e 1950 e apresentou boas lembranças  sobre este período.

Em conversa informal sobre o assunto e disse que a Japira ficava acima do Córrego Charqueada e que no local de fato moravam famílias de descendentes de escravos popularmente conhecidos pela alcunha “colonheiros”. Contudo, até onde sabe, entre o córrego e o lugar da praça não havia outro movimento anterior à década de 1940. 

Quanto ao surgimento do povoado e o marco zero da cidade Arnaldo Santos chamou atenção para o fato de que Manoel de Etelvina, o Tira-Banha, tido como o pioneiro a ocupar as imediações de onde hoje fica a praça, não foi o primeiro morador, mas sim o primeiro comerciante a abrir um boteco na região da praça  e que assim contribuiu para formação de um comercinho nas mediações e não no lugar exato apontado como o marco zero da cidade.

Sobre, completou dizendo que o centro começou a tomar forma quando Manuel do Duque e Joel Antunes compraram lotes e ergueram casas povoado nas imediações da praça que existia como um lugar aberto com uma grande floresta envolta.

Como um antigo morador além dos detalhes do surgimento do povoado ele  informou aspectos do cotidiano dos moradores da época, como por exemplo o fato de que a vida era árdua e que antes do movimento em torno da praça abriu muitos caminhos na floresta e enfrentou onças famintas e a fúria de cobras traiçoeiras para  sustentar a numerosa família, fala que evidência que antes mesmo da formação do povoado já havia no território uma dinâmica própria e característica.

Convém ressaltar que antes da formação do primeiro povoado nas proximidades da dita Praça, de fato um marco, já existiam núcleos rurais na Fazenda Nova América, Cascata e a dita Japira e que o senhor Arnaldo, Isidrio Alves, Manoel de Etelvina e Isael de Freitas são de famílias negras, caso que reforça a ideia de que eles participaram mais da ocupação e desenvolvimento do povoado que deu origem a cidade do que se pode imaginar.

Contato: samuithi@hotmail.com

Fontes:

BANCO DO NORDESTE. As origens.Teixeira de Freitas, Fortaleza – Ceará.p.05-07, Janeiro 1986.

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia, Belo Horizonte, 2011.

FERREIRA,Susana. A vida privada de negros pioneiros no povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960. Uneb campus-x. Teixeira de Freitas BA, 2010.

BORBOREMA, Athylla:  Família comemora os 95 anos do homem que desbravou Teixeira de Freitas.Teixeira news.com.br. Acessado em 20 de Março de 2013.

JORNAL ALERTA. Teixeira de Freitas: (Gráfica Jornal Alerta, Ano XII N° 779ª

Foto:

Postada por Mano Dimas no Museu Virtual de Teixeira de Freitas BA em 21/05/13

Legenda: Praça dos Leões 1978

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