Por Daniel Rocha*

A cidade de Teixeira de Freitas não surgiu por obra do acaso. Nasceu, sim, de uma série de transformações na política do estado, do país e das rotas de comerciais que tanto favoreceram a posição central da cidade. Dito isso, convém perguntar: quais são os principais fatos que contribuíram para o crescimento do comércio em  Teixeira de Freitas -BA,  maior cidade do extremo sul da Bahia?

Até 1950 o extremo sul  negociava mais com os estados do sudeste do que com qualquer outra cidade baiana, tanto que  em 25 de dezembro de 1947,  após viagem de reconhecimento da região, o deputado Ramiro Herbert de Castro relatou, em  carta, a gritante situação  para o então governador da Bahia Otávio Mangabeira:

“Infelizmente, quando se fala na zona do extremo sul do nosso estado, pensa se logo em uma faixa litorânea, cujas condições econômicas – sociais se encontram pouco além daquelas da era do descobrimento. De fato esta é a primeira impressão do visitante apressado. É de estarrecer, porém, afirma – se que a grande atividade econômica nesses municípios, que se expandem a trinta, quarenta, e até cinquenta léguas, no sentido das regiões progressistas das lindas mineiras, é exercida, sobretudo, por mineiros ali localizados.”

Porém, não se reduzia apenas a isso, o extremo sul era uma extensão da cidade mineira quando o assunto era comércio. Para melhor entender vamos analisar o papel central da fazenda Cascata no interior no município de Alcobaça,  que no presente pertence o município de Teixeira de Freitas.

Neste período de 1930 a 1950, a fazenda destacava como um importante interposto comercial para as pequenas fazendas vizinhas, fato lembrado até hoje por antigos moradores da região, como o senhor Isidro Alves do Nascimento.

Conforme o velho morador,  a fazenda Cascata ocupava uma posição central  porque ofertava meios para escoamento e abastecimento das populações dos arredores, que apesar da fartura de produtos naturais, necessitavam também dos industrializados.

Na Cascata havia, além da farinheira, a casa do proprietário Joaquim Muniz e outra mais distante próxima ao rio Itanhém. Também  uma venda onde era possível adquirir  os produtos industrializados, uma espécie de mercearia que vendia de tudo.

Conta Isidrio Alves que o proprietário Joaquim Muniz adquiria os produtos produzidos nas roças e vendia em Alcobaça.  Na venda os moradores compravam produtos diversos, “tudo no caderninho, no fiado para quem não podia pagar no momento” um grande favor que o torna grato até hoje:

“Na venda tinha açúcar, óleo, querosene, sabão, sal, aí o povo comprava. O proprietário Quincas Neto  também emprestava canoa para quem preferia ir vender suas safras na Alcobaça, lá os comerciantes ficavam no porto esperando para comprar.”

Segundo Evandro Virgulino,71 anos,  a fazenda Itaitinga, onde morou quando criança com a família  na zona rural de  Alcobaça, foi uma grande produtora de farinha. Recorda que toda produção era  destinada  ao comércio da  rua do Porto em Caravelas.

Lá mesmo em Caravelas gastava a renda, comprando produtos vindos de Minas como açúcar, tecidos, e a carne Jabá. Destaca que o lucro com a venda da farinha era pequeno, “fica tudo no armazém, quem ganhava mesmo era os comerciantes que compravam a farinha para vender a de Minas Gerais.”

A cidade Mineira de Nanuque, no que lhe concerne, era abastecida pelas únicas transportadoras atuantes naquela parte do estado, a Renato e Ramos que cobrava uma taxa altíssima para alimentar o comércio da maior cidade do extremo nordeste de Minas.

Através da estrada de ferro Bahia – Minas  os comerciantes mineiros compravam e vendiam no mercado de Caravelas que também abastecia as vizinhas, por conta disto as cidades baianas pagavam um preço altíssimo por produtos como açúcar, querosene, e a carne jabá. Suponho, apenas, que o preço ficava ainda mais abusivo no balcão das vendas do interior  como a da fazenda Cascata.

O comércio então era dominado pelos mineiros pelo fato de que não havia outra rota de escoamento pelo norte em direção a capital Salvador, como observou o deputado no final da carta escrita ao governador, explicando as razões desta dependência da cidade Mineira:

(…) Tudo isso, governador, tem uma explicação simples.A faixa litorânea daqueles municípios baianos, até 12 léguas de fundo, está em completo atraso, sendo suas povoações sujeitas á vida primitiva da exploração de culturas pouco rendosas e da pesca, padecendo horrivelmente da carência de qualquer espécie de transporte, não só entre as sedes das comunas, mas também para o interior e a capital de estado.”( Koopmans, 2005. pg 36).

Essa dependência comercial  também foi observada por Matias Arrudão,  jornalista do jornal  O estado de São Paulo, em 1945, durante passagem pela cidade de Caravelas em 1945, quando  avião em que  voava  pousou para ajustes no aeroporto da cidade.

“Caravelas não têm grande expressão urbana. E toda via um porto de certo movimento, por onde e escoa os artigos produzidos pelo extremo sul da Bahia e oeste de minas, zona de Teófilo Otoni, A.E.F, Bahia-Minas, parte de Caravelas e comunica – se com o Jequitinhonha, em “Arassuae”, num percurso de mais de quinhentos quilômetros em dois dias de viagem.” (ESTADO DE SÃO PAULO, 1945).

Segundo Koopmans (2005) a partir da década de 50, iniciou se a construção de uma estrutura que mais tarde tomaria conta da região. No próximo texto da série  vamos analisar como o fim da Bahia – Minas e a abertura das primeiras estradas, mudaram as rotas de comércio, influenciando o surgimento e crescimento do Comercinho dos Pretos, que mais tarde originou o povoado de Tira-banha e Teixeira de Freitas. (Ferreira, 2010).

 Atualizado 05/05/15

Referências:

KOOPMANS. Padre JoséAlém do Eucalipto: O papel do Extremo Sul. 2005.

MELLO, João Manuel Cardoso; NOVAIS, Fernando A. Capitalismo tardio e sociabilidade moderna: Companhia das Letras.SAID, Fabio Medeiros. História de Alcobaça – Bahia (1772-1958). São Paulo.

www.fazendacascata.com.br/site/a-fazenda/

FERREIRA, Susana. A vida privada de negros pioneiros no povoamento de Teixeira de Freitas na década de 1960. Uneb campus- x. Teixeira de Freitas BA, 2010.

Arrudão. Matias. A boa Terra. O estado de S. Paulo, 16/02/1945. Página 03.

Daniel Rocha da Silva*

Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X de Teixeira de Freitas – BA

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com.

O conteúdo deste Site não pode ser copiado, reproduzido, publicado no todo ou em partes por outros sites, jornais e revistas sem a expressa autorização do autor. Facebook

Veja também:

O rio Itanhém parte 01

O rio Itanhém parte 02

O rio Itanhém parte 03

O rio Itanhém parte 04

A exploração da Madeira parte 01

Medicina oficial em Teixeira de Freitas.

Mulheres parteiras em Teixeira de Freitas parte 03

Mulheres parteiras em Teixeira de Freitas parte 01

Mulheres parteiras parte 02.

Praça da prefeitura

O causo do Tatu papa -defunto.

Os nomes que Teixeira de Freitas já teve

O cine Horizonte

O comércio de Teixeira de Freitas

História da Expo Agropecuária de Teixeira de Freitas

O causo do Boitatá

O causo do nó da mortalha

Emancipação: História e memória

 

 

Compartilhar: