Por Daniel Rocha.

No dia 19 dezembro de 1968, quatro mil pessoas ficaram desabrigadas com a enchente mais conhecida e sem precedentes do rio Itanhém  que atingiu e transformou em um mar de lama algumas cidades do Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, e municípios do extremo sul baiano, como Medeiros Neto, Itanhém, Alcobaça e  zona rural do povoado de Teixeira de Freitas.  A inundação causou danos a infra – estrutura local e as plantações da região .

A enchente que provocou inundações e trouxe prejuízos às cidades e aos moradores das cidades banhadas pelo rio  costuma ser lembrada como a mais devastadoras de todas, haja visto os registros da destruição que provocou.

Na época do ocorrido jornais dos estados próximos, Minas Gerais, e de São Paulo noticiaram com destaque o ocorrido dando demasiada ênfase a tragédia e pouca atenção a possíveis causas parentes, a saber a devastação das matas ciliares por empresas vindas do estado vizinho. Em 19/12/1968, O Estado de São Paulo, escreveu:

“Mais de 500 casas destruídas, 5 mil pessoas desabrigadas, serviços telefônicos e de urbanização danificados, lavouras devastadas e um número de mortos ainda não determinados – este e o balanço prévio da catástrofe que se abateu sobre o município baiano de Medeiros Neto (…) Medeiros Neto foi parcialmente destruída pelas águas do rio Itanhém, que subiram 6 metros acima de seu nível normal, embora a cidade não tenha visto chuvas. Quando a região mineira do vale do Jequitinhonha foi inundada, o que ocorreu no último dia 8, a cidade sofreu os efeitos da tromba  d´água e, como o rio a divide em duas partes, a destruição alcançou grandes proporções. Com o transbordamento do “Itanhaém” 520 casas foram destruídas, inclusive edifícios públicos e lojas comerciais, deixando um terço da população ao desabrigo.Além de Medeiros Neto, também Alcobaça, na Bahia foi bastante atingida pela enchente, as duas cidades se localizam próximo à fronteira de Minas, na região do Vale do Jequitinhonha. Sobre o rio Alcobaça, naqueles 2 municípios, existem 14 pontes destruídas e 120 casas derrubadas, o que representa um prejuízo de mais de 1 milhão de cruzeiros novos”. (O estado de São Paulo)

A sucursal de Belo Horizonte era quem passava as informações para os Jornais paulistas, por isso nestes há mais sobre as cidades mineiras e poucos detalhes dos municípios baianos.

Contudo, apesar de,  a situação da cidade de Medeiros Neto foi a que mais chamava a atenção dos jornais quando se referiam as cidades da  Bahia, sem dúvida devido a proporção dos danos causados.  

Seis dias antes , 12/12/1968,  outro jornal Paulista,  Folha de São Paulo, informou que a FAB ( força aérea Brasileira)  havia sido acionada para prestar socorro aos milhares desabrigados de Minas e da  Bahia.

“O serviço de busca e salvamento da FAB recebeu comunicado da secretaria de saúde de Minas informando que duas mil estão isoladas em Machacalis”. (…) Acrescentou o comunicado que a situação havia se agravado com a inundação da cidade de Medeiros Neto.  “(…) subindo a mais de cinco mil as pessoas desabrigadas. As primeiras providências do socorro ás vítimas foram tomadas pela equipe de salvamento do SAR de Recife(…) que já montou um posto avançado em Caravelas, litoral baiano , de onde partirão as missões de socorros.) O objetivo é levar às famílias remédios e os soros pedidos com urgência”. (Folha de São Paulo)

No dia 19/12/1968, a enchente voltava chamar a atenção do jornal O estado de São Paulo  que noticiou que um outro grande mal assolavam a região, a febre tifóide, a doença infectocontagiosa  provavelmente foi causada pela ingestão de água contaminada, já que a enchente deixou sem água potável às cidades atingidas.

“A febre tifoide constitui o novo e grave perigo que ameaça o Vale do Jequitinhonha, fato que a secretaria de Agricultura de Minas gerais já admitiu. O número de pessoas afetadas pela enfermidade aumenta em ritmo alarmante.Cinquenta mil doses de vacina já se esgotaram (…) sobre os municípios baianos de Medeiros Neto e Alcobaça e Itanhém. Não há informações pormenorizadas relativamente à situação nesses municípios, tudo indicando que os prejuízos são vultosos, já que os rios Alcobaça e Itanhém alcançaram nível muito superior ao normal, em toda a região”.( O estado de São Paulo)

Toda essa tragédia não pode ser atribuída apenas a enchente é preciso lembrar que os desmatamento intenso das reservas naturais pela empresa madeireira na região já tinha extinto parte das matas ciliares do espaço local.

Convém dizer que  a região do extremo sul ,uma região administrativa recém criada,  não tinha contato terrestre com a capital Salvador e nem uma infraestrutura que possibilitasse às cidades emergentes investirem em obras de contenção adequadas, tanto que é possível notar nos jornais uma inter relação desta parte do extremo  sul baiano como as providências do estado mineiro.

No povoado de Teixeira de Freitas, não foram grandes os desastres pessoais, mas foram expressivos os prejuízos sofridos. Moradores relacionam a queda de pontes e acidentes fatais a cheia de 1968. Continua na próxima Postagem.

Daniel Rocha

Historiador, Bacharel em Serviço Social, Cinéfilo e blogueiro criador do blog Tirabanha em 2010.Contato : Samuithi@hotmail.com  , Tirabanha@tirabanha.com

Fontes:

(01)  CARDOSO DE MELLO, J.M. & NOVAIS, F. Capitalismo Tardio e Sociabilidade Moderna. In: SCHWARZ, L.M. (org) História da Vida Privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, vol. 4, capítulo 9.

Canga está forte ajudando vítimas ao norte de minas. Folha manhã, Rio de Janeiro,18 Dezembro.1968. P.7.

Desabrigo e morte já alcançaram a Bahia. O estado de São Paulo, São Paulo, 19 de Dezembro.1968.P.10.

FAB socorre vítimas das inundações em Minas e Bahia. 5 mil desabrigados.Folha de São Paulo, São Paulo, dezembro.1968.P 13.

Imagem meramente ilustrativa.

Veja também:

O rio Itanhém parte 04.

O rio Itanhém parte 01

O rio Itanhém parte 02

O rio Itanhém parte 05

A exploração da Madeira parte 01

Medicina oficial em Teixeira de Freitas.

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