Por (Daniel Rocha)

Segundo estudo hídrico da CEPLAC , Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira, 1977, a maior seca  da bacia do Rio Itanhém ocorreu no ano de 1951. Sem muitos detalhes, o estudo informa que tal como as cheias os períodos de estiagem traziam, e ainda traz, modificações severas na dinâmica do rio.

 Um longo período de seca  era fatal para a população ribeirinha que já vivia uma rotina de dificuldade. Sem apoio estatal e isolados pela mata atlântica, os moradores se uniam em procissão para  enfrentar a falta de água com muita fé e  devoção.

 É o que conta quatro moradores nascidos e criados em fazendas da região, Salvador Anunciação,65 anos, Antônio da Silva Barbosa, de 67 anos,  Ivanildo Ivo do Nascimento Correia, de 75 anos e  Benedito Libânio da Conceição de 70, ambos testemunhas de  diferentes períodos de estiagem.

Benedito Libânio considera que foi a maior que presenciou, recorda que o nível de água do Rio Itanhém ficou muito abaixo do normal, ao ponto de assustar os moradores mais vividos.

Na prática, o nível do Itanhém baixou tanto que formou bancos de areias no meio do rio impedindo a navegação. 

 Não havia com a falta de chuva qualquer condição para pesca, a falta de peixe na mesa dos ribeirinhos já era motivo de preocupação, com a safra  comprometida  a pobreza  aumentou entre os mais humildes.

Nesta época com onze anos de idade, Libânio conta que  além do drama da estiagem, também estava enfrentando a ausência da mãe que  morreu ao dar a luz  a irmã mais nova.

Descreve que morava em uma casa de cipó e  palha na Fazenda Caraípe,  na época de propriedade do senhor Zé Barros. Graças a produção de cachaça da fazenda, ficou livre de sofrer com a fome que castigava boa parte dos sítios e fazendas naquela região. 

 “Na redondeza tinha muita gente passando fome. Não passei porque havia na fazenda um alambique que empregava todos os trabalhadores” , diz.

Com o dinheiro pelo trabalho na alambique, o pai comprava carne em uma charqueada próximo ao  povoado do Tira –  Banha, hoje Teixeira de Freitas.

O leite para o irmão menor era doado por Isael de Freitas Correia, que tinha terra próximo ao local onde hoje fica  o batalhão da polícia. A farinha, que ao lado do peixe fazia parte do básico diário, também ficou escassa.

“Devido a falta de chuva o Rio Itanhém, ficou parecendo um córrego. Dava para pular de um lado para o outro. Agente comia  carne com banana porque a seca atrapalhou o cultivo da mandioca, todo mundo ficou sem  a farinha.”

 A seca do rio não só deixou todos desesperados, como também fez o povo apelar para  os velhos costumes e a misericórdia  de Deus.

Segundo o senhor Libânio, com a esperança de ver  o sofrimento que estavam vivendo chegar ao fim, os moradores da Fazenda Caraípe colocavam sobre a cabeça pedras tiradas da margens do rio e levavam em procissão até a capela de São Benedito, na fazenda Nova América.

Ao pé do cruzeiro da capela, os fiéis deixavam as penitências com orações e cânticos religiosos. Segundo  Libânio, Deus  atendia  o clamor dos aflitos moradores , tão dependentes da saúde do rio como toda natureza à sua volta.

No próximo texto da série sobre o Rio Itanhém, a estiagem de 1962 abala o novamente a região, moradores da fazenda Cascata , Nova América e Arara,  recorrem à tradição.

Fonte:

ROCHA FILHO. Carlos Armando. Comissão executiva do plano da lavoura cacaueira . Recursos Hídricos. Rio de Janeiro. CEPLAC, 1976.

Conversa Informal com:

 Benedito Libânio da Conceição . 2014.

Veja também

O rio Itanhém parte 01

O rio Itanhém parte 02

O rio Itanhém parte 03

O rio Itanhém parte 04

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