Por Daniel Rocha

Durante a construção do trecho da BR-101, que chegou a cidade de Teixeira de Freitas, Bahia, no início da década de 1970, os moradores do então povoado, e de outras localidades às margens da rodovia, tiveram que encarar um surto de malária e febre tifo que atingiu toda a região fronteiriça  do extremo sul da Bahia.

De acordo com Frei Elias, no livro Os “Desbravadores do Extremo Sul Da Bahia” em consequência da construção os buracos escavados por máquinas, que buscavam terra para aumentar o leito da estrada, deixaram abertos buracos enormes que com a chuva encheu se de água. 

Como não havia no município a disposição de um serviço de distribuição de água encanada, os moradores aproveitaram a água acumulada para lavar roupas e tomar banho e outros afazeres. Tal hábito ocasionou  o surto de tifo que vitimou diversas pessoas no centro e na zona rural do povoado e cidades próximas, em uma época que as questões sanitárias eram urgentes e não existia médico por perto.

De acordo registro de Benedito Ralile, em virtude da grande quantidade dessas poças d’água  que se formavam nas margens da estrada aberta pela firma EMPERPAV, caravelenses do povoado de Rancho Alegre também enfrentaram um terrível surto que chegou provocar a morte de moradores do lugar. 

Ainda de acordo, durante o surto uma pessoa (não identificada), muito doente e que não tinha família e que se encontrava em “estado real de pobreza”, após ser socorrido e medicado pelos meios “rústicos existentes da localidade”, chás, benzedeiras e alguns possíveis remédios, veio a falecer com a febre.

Confira imagens da abertura da Rodovia


Tido como “um indigente” o homem foi enterrado num caixão simples, feito às pressas, com um material barato e que não tinha forro. A partir então da observação de um morador sobre o ocorrido, o lugar ficou conhecido por muito tempo entre os transeuntes e populares como “Caixão sem Forro”. 

De acordo informações publicadas no Jornal do Brasil, de 1972, o surto também atingiu cidades do norte do Espírito Santo e o Nordeste de Minas, e à propagação estava associada à malária que já tinha provocado a morte de 39 pessoas e a chegada de grande leva de trabalhadores nordestinos a região para trabalhar na construção de rodovias. Segundo as informações registradas pelo periódico, no total a doença teria matado mais de 90 pessoas no extremo sul.

Na época a secretaria de saúde do estado enviou uma equipe a região, para intensificar vacinação, e investigadores sanitários que constataram casos de tifo na área da cidade de Mucuri, onde 20 mortes haviam ocorrido. Mortes silenciadas pelas narrativas sobre o desenvolvimento econômico da região feitas sem as devidas ponderações críticas sobre os impactos sociais causados.

Fontes:

RALILE, Benedito Pereira; SOUZA, Carlos Benedito de; SOUZA, Scheila Franca de. Aspectos da política; História dos povoados, bairros e distritos de Caravelas. In: ______. Relatos históricos de Caravelas: (desde o século XVI). Caravelas, BA: Fundação Professor Benedito Ralile, 2006.

HOOIJ, Frei Elias. Os desbravadores do Extremo sul da Bahia, Belo Horizonte, 2011.

Historiador graduado  e Pós-graduando em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X. Latees.

Daniel Rocha da Silva*

Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com

Foto: Trecho de abertura da BR -101 Eunápolis -Itamaraju. 1966.

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