Por Daniel Rocha
A cidade é um espaço complexo e dinâmico que está em constante transformação, sendo moldada por diferentes forças sociais, políticas e econômicas. Circular por ela nos permite observá-la e interpretá-la, bem como questionar as curiosas arquiteturas e formas existentes que marcaram a memória da população transeunte.
Dentre estas, algumas estruturas curiosas que existem por anos na paisagem sem que sua verdadeira essência e motivos que levaram a sua construção sejam compreendidas ou conhecidas. É o caso do “Botijão Gigante” que existe nas imediações do trevo da cidade, na extremidade do bairro São José em Teixeira de Freitas, BA.
Por ter sido construído em uma área de grande trânsito na cidade, próximo a BR-101 e Avenida Presidente Getúlio Vargas, a estrutura curiosa na paisagem se tornou ao longo do tempo uma das principais referências para os passantes rotineiros da via de acesso aos bairros Nova América e Mirante do Rio.

No primeiro momento, a ideia que se tem é que a história da construção do “Botijão Gigante” em Teixeira de Freitas remonta ao contexto social e econômico do país na época. Durante a década de 1980, período ditatorial, o Brasil vivenciou uma crise econômica que afetou a todos os setores da sociedade, incluindo o consumo de energia, o botijão faz parecer que ali existiu um local de venda para atender as empresas e oficinas localizadas no trevo que enfrentavam dificuldades.
Contudo a história é outra, a partir da pesquisa e levantamento de informações feita pelo memorialista e colaborador do site tirabanha, Domingos Cajueiro Correia, descobriu-se que a motivação da construção relaciona se com uma difícil realidade local dos primeiros tempos: o deficiente acesso a abastecimento de água da cidade no início da década de 1970 e 1980.
Nas décadas de 1970 e 1980, a escassez de água era uma realidade teixeirense que afetava muitas empresas locais, principalmente as localizadas naquela região às margens da BR-101 que tinha uma demanda para além da capacidade de fornecimento da EMBASA que ,na época, mal atendia a demanda doméstica local e não fornecia água tratada para esse tipo de atividade.

Por isso, na década de 1980, o empresário Jota Pires, proprietário do antigo complexo do Posto Ayres, hoje Auto Posto Gaivota, maior parada de caminhões e caminhoneiros da cidade, abriu um poço artesiano e construiu a enorme caixa-d’água em forma de botijão para abastecer todo o comércio envolta do seu complexo famoso pelo o atendimento dos trabalhadores da estrada que fazia uso da água para higiene pessoal e limpeza dos automóveis e , para além, auxiliares dos transportes terrestres.
Com capacidade para armazenamento de 51.000 litros de água potável e o poço com profundidade de 80 metros, como já dito, a icônica caixa-d’água atendeu às demandas do Posto Gasolina e seus anexos, uma Churrascaria e uma lanchonete com atendimento de 24 horas, muito movimentada pelos caminhoneiros, turistas e teixeirenses.

A construção da caixa foi o último recurso para pôr fim às dificuldades e permitir o atendimento da demanda oriunda do trânsito intenso da estrada federal inaugurada oficialmente em 22 de abril de 1974, que além de ter transformado o espaço urbano da cidade influenciou fortemente sua economia que se desenvolveu livremente após a emancipação da cidade conquistada em maio de 1985.
Sobre a escolha do formato da caixa nenhuma explicação foi relatada, mas o fato de também ter existido no complexo um depósito da Brasil Gás, que ficava próximo ao local da caixa d’água, estima-se que a comercialização do produto tenha relação com a construção daquele formato diferente e, possivelmente, com a crise energética do final do século passado.
Em suma, o “Botijão de Gás Gigante”, localizado no trevo da cidade, no bairro São José, é uma construção que reflete a organização social da cidade. Este objeto, assim como a paisagem transformada em que se encontra, oferece uma perspectiva útil para compreender as transformações locais como um sistema aberto, em constante evolução e como um reflexo das dinâmicas sociais, culturais e econômicas que moldaram a cidade nas suas primeiras décadas de desenvolvimento..
Daniel Rocha da Silva*
Historiador graduado e Pós-graduado em História, Cultura e Sociedade pela UNEB-X.
Contato WhatsApp: ( 73) 99811-8769 e-mail: samuithi@hotmail.com
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Domingos Cajueiro Correia* : Memorialista e colaborador do site tirabanha.
Chegamos em Teixeira de Freitas nos meados dos anos 60 precisamente em 64 no auge da ditadura, ficamos por 6 meses e fomos para Santo Antônio onde permanecemos até 74, vi a inauguração da exposição da rodoviária vendi muito picolé pra sorveteira sayonara peguei muito frete na feira livre, desde de então moro no bairro vila vargas .